Working Mothers e nossa mania insuportável - e quase infantil - de buscar a perfeição em tudo

 Julia, from the movie The Intern Julia, from the movie The Intern

Outro dia assisti a um vídeo no Instagram que me emocionou.  Era de uma menina (curiosamente chamo todas as mulheres da minha idade de meninas) que infelizmente conheço pouco.  Ela é amiga de uma grande amiga, e apesar de trabalharmos durante um tempo na mesma empresa, éramos de áreas distantes e tínhamos pouco contato até que ela saiu da empresa e mudou-se para Barcelona, não somente para acompanhar o marido em uma nova empreitada profissional, mas principalmente para realizarem um sonho conjunto de viver outras culturas e dela tirar um período sabático para dedicar mais tempo aos filhos.

O vídeo era caseiro, postado em comemoração pela sua formatura em um curso executivo que ela aproveitou para fazer em uma das mais renomadas escolas de negócio da Espanha. Em uma cerimônia pomposa, chamam seu nome para buscar o diploma e ela, com dificuldade, consegue se desprender dos braços do filho pequeno que estava em seu colo, deixá-lo com o pai, driblar a plateia e finalmente chegar ao palco para receber o reconhecimento. Assim que cessam os aplausos e faz-se aquele silêncio solene para as homenagens, seu filho cai em um pranto estrondoso e contundente, chamando pela mamãe.  Sem descer do salto, ela volta sorridente a subir a escadaria, pega o filho e volta gloriosa para a bancada com ele no colo para finalmente receber o canudo das mãos dos elegantes engravatados debaixo de uma salva de palmas, agora ainda mais forte e entusiasmada.

O vídeo era curto e divertido, mas conseguiu condensar para mim uma vasta gama de emoções, tal qual uma poesia. Enxerguei o amor pelos filhos, o orgulho pela carreira construída com tanto suor e dedicação, o desejo de independência mesmo dentro de laços firmes, a árdua busca pelo equilíbrio entre as demandas da maternidade e a realização profissional, os pratinhos enlouquecidos rodando no ar sem poder cair, tudo ali deliciosamente capturado em um par de minutos. Acho que nos emocionamos quando nos identificamos e nos inspiramos.

Nesses dias, minha chefe conduzia brilhantemente uma reunião com várias pessoas na sala e outras tantas conectadas remotamente (como eu), quando pediu licença para interromper e atender ao celular. Era uma ligação inesperada da escola das filhas e foi uma pequena pausa em sua apresentação, mas um grande exemplo de que prioridades são prioridades – sempre. Dizem por aí que somos cobradas a trabalhar como se não tivéssemos filhos, e a exercer a maternidade como se não trabalhássemos. Entendo perfeitamente que muitas se sintam assim, porém, na minha opinião, nossa cobrança mais rigorosa vem de dentro.

Sei que ainda existem empresas com políticas antiquadas de trabalho, pouca flexibilidade geográfica e de horários e sei também que o papel de mãe nos demanda atenção 24 x 7, mas ainda assim acredito que nosso pior carrasco ainda seja o nosso próprio lobo frontal (ou seria o nosso lobo mau de estimação?). Nossa mania insuportável - e quase infantil - de buscar a perfeição em tudo, como se “a filha”, “a esposa”, “a mãe”, “a profissional” fossem fantasias penduradas no armário, impecavelmente passadas e engomadas para serem desfiladas no Carnaval. Vejo que pouco a pouco essas imagens idealizadas vão sendo substituídas pelas possíveis: mulheres (e homens) que se permitem ser um pouco (na verdade, muito) de tudo, sem perder a profundidade, sem perder o conteúdo, e ainda adicionando algumas pitadas extras de jogo de cintura, graça e inspiração.

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