Sobre a liberdade de encontrar quem você realmente é
Uma vez eu li uma frase que me marcou muito: “Eu sou filha demais pra ser mãe”. A frase era de Alessandra Garattoni num post no qual ela falava sobre maternidade. Acontece que sempre somos etiquetadas com labels: a neta, a filha, a namorada, a amiga, até mesmo a irmã… Eu me perguntava quando eu seria só eu. Sabe, assim mesmo, só Helena!
O maior choque pra mim foi mudar de cidade para fazer faculdade. Ninguém me conhecia, ninguém conhecia minha família, ninguém sabia nada da minha história. No entanto, não demorou muito para que eu adicionasse mais vocativos à lista, que era interminável. Virei aluna, “a Helena da turma A”, obviamente porque tinha a Helena da turma B, fato inédito na minha vida ter uma colega com mesmo nome. Depois virei a monitora, daí a estagiária, a aluna de iniciação científica, a do intercâmbio na China, a da paróquia tal, a orientando da professora fulana, a coordenadora.. ufa! Quantas Helenas.
Entretanto, ganhar mais labels não retira as que você já carregava consigo, parece que elas vão se acumulado, quando você vê, virou a filha do casal X que foi fazer arquitetura em Campinas, que tá solteira e mesmo assim nunca voltou. Ter mil versões de você às vezes pode ser um choque, especialmente porque a amiga é diferente da filha, da namorada, mas uma não anula a outra.
Meu rótulo preferido com certeza é: “a Helena que viaja”, parece que esse é o único capaz de ocultar todos os outros por me linkar a algo tão inerente à minha pessoa que faz com que eu me sinta plena só com esta label. Por outro lado, o pior pra mim definitivamente era: “a Helena solteira”, porque eu me sentia como a estranha do grupo: aquela que parecia incapaz de merecer algo. Quantos namorados de amigas me acharam má influência pelo simples fato de ser solteira e viajar sozinha por aí? Muitos! Quantas amigas me recriminaram quando eu falei: “Ainda não sei se quero filhos, nunca pensei nisso! Ainda não tá na hora”. Muitas!
Expor tudo isso é só para esclarecer como não podemos deixar os rótulos nos limitarem. Pode parecer sufocante ter que atender a tantas personas ao mesmo tempo, mas encontrar quem você realmente é, é libertador. Acho que um indicador muito engraçado é o nome que as pessoas usam para salvar meu contato no celular: Filha, Hê, Helena de Harvard, Helena Arquiteta, Ami... E por aí vai. Essa é a forma como eles me veem, mas não posso limitar a forma como eu me vejo pelos olhos dos outros.
No meu doutorado, estudo alguns personagens do modernismo brasileiro, dentre eles uma mulher (vou manter em segredo por hora, conto depois). Nunca vou esquecer o conselho que recebi para mudar o título do capítulo sobre ela. Meu professor falou o seguinte: “Por quê “pelos olhos dela” quando você pode exaltar a glória de sua pessoa?”
Repasso essa pergunta a todos os leitores que leem esse texto: Por que nos ver pelos olhos de alguém quando podemos ser quem somos apenas nos libertando dos rótulos que os outros veem na gente?