Michelle Obama e o movimento Lean In de Sheryl Sandberg
Michelle Obama, acabou de lançar seu novo livro, Becoming (que eu quero muito ler nas férias) XXX. Ela estava no meio do book tour esta semana quando falou para toda platéia “Lean in is shit”. Lean in foi um termo criado pela Sheryl Sandberg, COO do Facebook e título do livro dela que mudou muita coisa (para melhor) na posição das mulheres no mundo corporativo.
No livro, Lean In, (o primeiro livro girlboss de verdade que já foi escrito e que eu recomendo super) ela conta diversas situações nada favoráveis para mulheres no mercado de trabalho, principalmente no Tech World e dos fundos de investimentos. Tipo o dia em que ela perguntou em uma reunião com investidores do Facebook em um escritório em NY onde era o banheiro feminino e ninguém sabia responder se tinha um banheiro feminino, afinal nunca uma mulher sentou naquele board.
A Sheryl escreveu o livro de uma posição privilegiada, ela nunca disfarçou isso. Mas recebeu um backlash gigantesco porque muitas mulheres interpretaram seus conselhos como vindo de uma mulher que acha que as outras mulheres não conseguem crescer profissionalmente porque deixam de correr atrás, ou porque se acomodam. Como se ela estivesse ignorando toda uma parcela que é culturalmente desprivilegiada. Eu vejo de forma menos agressiva.
O problema da desigualdade de gêneros é global e varia de país para país. Fatores culturais, sociais e econômicos contribuem para o aumento dessa desigualdade. A Sheryl é COO do Facebook, para poder trazer as dicas e conselhos dela precisamos aplicar na nossa realidade, de acordo com o nosso ambiente familiar e de trabalho. Aqui no Brasil mais de 50% das casas são comandados por mulheres e todas elas trabalham, porque não tem opção, precisam trabalhar. Então moramos em um país onde as mulheres já fazem as duas coisas, trabalham e cuidam da casa. Nos Estados Unidos mais de 70% da casas são comandadas por working moms. Mas provavelmente se a gente enxerga com uma lupa a situação familiar das mais privilegiados, não encontrei estatísticas com esses dados, mas olhando para meu circulo social, boa parte das mulheres não trabalham ou têm uma trabalho quase artesanal, porque não precisam. É a realidade invertida. E são essas mulheres que poderiam fazer a diferença no mercado de trabalho, tanto pela sua contribuição intelectual quanto para ajudar no diálogo com os homens para lutar por ambientes mais igualitários. Mulheres que aprendam a negociar (by the way eu e minhas amigas estamos lendo um livro ótimo sobre negociação, dica da Maria Ruth Jobim, nossa Career & Culture Editore) se valorizam mais, são mais autoconfiantes, se sentem mais empoderadas e capazes.
Sheryl não fala sobre ter tudo. Have it all sempre não existe, é uma utopia. Mas em um contexto maior, você consegue have it all, mas não todos os dias. Precisa aceitar essa realidade e exigir menos perfeição.
A plateia com quem Michelle Obama fala é mais diversificada, a grande massa que a admira são mulheres que não tem opção, que culturalmente tem menos voz. E ela está certa, para essas mulheres, lean in is shit, não tem ninguém para elas sentarem no board, aliás não tem board. Entra em um universo onde o governo precisa interferir, um ambiente injusto e desigual, onde não há oportunidades para todos (é a mesma analogia que dizer que homens pobres e negros no Brasil tem a mesma oportunidade que homens brancos de classe média. Não tem, period.)
O movimento Lean In da Sheryl Sandberg faz um barulho necessário. Ele mexeu na dinâmica das mulheres que ocupam cargos de liderança em grandes companhias e trouxe a conversa para mulheres jovens que estão entrando no mercado de trabalho agora. Precisamos saber interpretar os fatos e trazê-los para a nossa realidade. Isso é ser democrático, na vida inclusive.
A gente ama a Michelle Obama e a Sheryl Sandberg por trazerem essa conversa para a mesa. A gente já debateu muito essa pauta sobre work-life-balance em textos aqui no Lolla e nos Lolla Talks. É um tema sem solução, mas é muito necessário debater e trocar.