Um bate-papo com a fotógrafa mineira Juliana Sicoli

A mineira Juliana Sicoli descobriu na fotografia o grande meio de se expressar. Com uma arte suave e intensa ao mesmo tempo, a fotógrafa explica um pouco seu processo criativo, seus questionamentos e a influência de sua família na arte e na vida.

Q. Ju, impossível não associar a sua própria beleza e seus olhos (um tom de verde profundo) com a beleza das suas fotos. Parece que um reflete o outro. Como é esse encontro?

Obrigada pelo elogio! Dizem que os olhos refletem a alma e eu sou uma pessoa que conversa muito pelos olhos. É muito fácil saber o que estou sentindo se vc observar no fundo deles, sou bem transparente... E isso eu tento passar nas minhas fotografias também, que elas possam refletir exatamente o que estou vendo, como uma maneira de congelar aquilo ali.

Q. Você vem de uma família de psicólogos e cresceu familiarizada com discussões sobre temas existenciais. Como isso a fez despertar para a arte e como a influencia hoje?

Crescer numa casa onde assuntos profundos eram tratados com naturalidade, e onde a essência do ser humano sempre foi muito respeitada, me permitiu uma visão diferenciada, um senso de observação muito apurado...  E me causou interesse em aprofundar em temas mais complexos e sensíveis. Tudo isso me despertou pra arte e me ajuda até hoje na criação de minhas séries, porque elas sempre carregam uma bagagem, uma história, um tema que quero trazer pra superfície. Tento revelar o que está muitas vezes guardado lá no fundo, seja em mim mesma ou no elemento fotografado.

Q. Algumas de suas séries, como a “Metamorfose”, fala de transformação. Você viveu essa experiência?

Totalmente! E vivo ainda até hoje! Todos nós estamos constantemente em metamorfose. Precisamos passar por momentos de reclusão, de introspecão, para ter coragem de romper com o que nos limita e poder voar! Exatamente como as borboletas, assim é o ser humano que busca seu crescimento. É um processo muitas vezes doloroso, mas libertador e fundamental ao amadurecimento.

Q. Sua vida hoje está dividida entre São Paulo e Belo Horizonte. Com seus dois filhos (uma menina de 8 anos, e um menino de 5 anos) teve que praticar e aceitar uma nova rotina. Como é? Trata-se de uma “metamorfose”?

Sim, e não é fácil administrar isso. É tentar criar uma rotina dentro da “falta de rotina”. São dois pontos que eu tento equilibrar, o papel de mãe e o trabalho. Quando estou com eles invisto na qualidade do nosso tempo, fico por conta, participo de todas atividades deles, não abro mão. Nem que eu tenha que virar a noite (depois que eles forem dormir) pra poder entregar algum trabalho urgente. E quando eles estão com o pai (separamos há quase 3 anos), eu foco completamente no trabalho, claro que sempre nos falando e participando de longe. A tecnologia ajuda muito, às vezes auxilio até no dever de casa da minha filha por ligação de vídeo. E uma coisa que me conforta muito, além de saber que eles estão bem, é que eles respeitam muito meu trabalho, curtem mesmo, e dão a maior força. É bonitinho demais quando levo eles à uma galeria ou feira de arte e eles sabem exatamente quais são as minhas obras. E eles já se interessam por arte, isso é muito legal!

Q. Sua arte está fundamentada na fotografia contemporânea, algo ainda relativamente novo no meio artístico. Como é a aceitação e qual é a sua visão desse mercado?

Felizmente meu trabalho tem sido muito bem aceito no mercado, acho que a fotografia contemporânea só tem somado às demais artes. Claro que são muitos desafios: por ser uma maneira mais acessível de se criar arte, e também, com a facilidade de divulgação pela internet (e consequentemente a chance de tentarem “copiar” o que é mostrado), o mercado está com uma forte concorrência. Mas isso também tem seu lado bom, sou desafiada a criar mais, a mudar, a virar a pagina. E não é só uma imagem que o artista entrega numa obra, é todo um conceito, uma história... E as pessoas valorizam isso, têm o olhar apurado, são exigentes. Não tem espaço a longo prazo pra quem não for sério.

Q. Seu crescimento foi rápido. Em poucos anos já é representada por galerias, participou de feiras como a SP Arte e Sp Arte/Foto e exportou também para mercados como Miami. Como sente essa evolução?

Re, as três palavras que me movem todos os dias são: amor, estudo e dedicação. A união destas três palavras tem uma força incrível! Sou muito focada ao que me proponho fazer, e amo com minha alma fazer arte.

Trabalho com fotografia há mais de 11 anos, e neste tempo passei por projetos de moda, publicidade, famílias... Isso me permitiu apurar muito o meu conhecimento em relação à luz, cor e comunicação visual, fora que conheci muita gente também, que hoje endossa minha credibilidade, sabe que estou no mercado há mais tempo do que possa parecer. Há uns 4 anos, sentindo que precisava ir além e me aprofundar mais, desenvolvi um projeto totalmente autoral com diversas mulheres em que eram mostradas fragilidades, particularidades ocultas, histórias de vida.  Ali senti que estava no caminho certo e que faria da fotografia minha maneira de comunicar com o mundo. Resolvi então expor fotografias autorais antigas que nunca tinha mostrado a ninguém, e resolvi criar mais e mais, como uma maneira de colocar pra fora tudo que estava guardado. Foi indescritível a sensação de enfim ter me encontrado profissionalmente. Mas eu tinha total consciência de que o caminho não seria fácil, porque é complicado viver só de trabalho autoral. Então, me cobro dedicação máxima pra tornar isso viável. Sei que além do lado artístico, que requer muito estudo e criação, é necessário também ter muita organização, ética, comprometimento, ter bons parceiros, postura...  Acho que a receptividade das pessoas do meio, como dos galeristas que me representam, vem muito desta seriedade que eles enxergam no que estou fazendo, além, claro, do amor que eu sinto e que me move. Mas o caminho ainda é longo, sempre acho que posso evoluir mais, como pessoa e profissional. É uma eterna busca, não pode parar.

Q. Recentemente realizou um projeto incrível com uma gigante instalação no estádio do Mineirão e me contou que pretende ampliar para outros estádios, aproximando a arte da cultura popular. Achei linda a ideia! Conta mais um pouco?

A instalação do Mineirão faz parte de um projeto em que fotografei diversos estádios em cidades ao redor do Mundo, como Londres, Madrid, Rio e BH, entre outras. É um projeto lindo, que busca unir arte e cultura popular, mostrando que a beleza pode estar em todos lugares. Temos planos de leva-lo a crianças e a um publico que talvez não tenha acesso à arte ou o olhar voltado pra ela. É algo grande, que estamos desenvolvendo há 2 anos, com o apoio de uma curadoria internacional. E fiquei muito feliz em estreia-lo em BH, minha cidade natal.

Q. Como consultora de imagem estilo que sou, não poderia deixar de perguntar sobre as cores de suas fotos. Um professor da escola de Bauhaus, Johannes Itten percebeu que frequentemente seus alunos tinham preferência por cores que complementavam sua coloração pessoal. Mais tarde, foi desenvolvida a análise cromática com o objetivo de descobrir as cores que mais valorizam as pessoas de acordo com sem tom de pele, olhos e cabelos. Nós já fizemos a sua análise e selecionamos a cartela "Inverno Vivo", com cores mais frias e vibrantes. Então, agora te pergunto: acha que as cores de sua cartela pessoal podem ser suas preferidas na arte também?

Nossa, completamente!!! Confesso que não tinha observado essa ligação, mas agora vejo claramente que as cores que mais uso na arte são as cores que mais gosto de vestir. Inclusive, fiquei muito feliz em fazer essa análise com você e confirmar que as minhas cores preferidas são também as que me favorecem mais, trazem mais luz... E que as outras cores que gostamos mas que não nos  favorecem tanto, podem ser usadas em complemento com outras, para neutralizar e até mesmo continuar bem! Adorei as dicas, obrigada!

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