Interview: Sussan Shokranian, Fashion Designer
Conheci a Sussan Shokranian através de uma amiga muito querida. Aquela amiga que tem um certo je ne sais quoi, uma bossa que vem de dentro. Então, sendo amiga dela, provavelmente a Sussan teria uma boa história para contar. E claro que estava certa. Sussan nos compartilhou sobre sua vida entre viagens, moradias em alguns países, a trajetória de inicio de carreira e a coragem para mudar e, a delícia e as dificuldades de apostar num sonho.
E, imagino que como a Sussan, muitas meninas acabam decidindo por um curso na graduação e percebendo que seu coração está em outro lugar. Mas nem todo mundo tem a coragem de apostar.
A marca da Sussan está nascendo e queria compartilhar com o público do Lolla não só a marca incrível, mas a pessoa por traz de tudo isso.
Q. Você veio do universo dos números. Formada em Economia, trabalhou para a ONU e, conta para nós, como foi parar no universo da moda?
Desde pequena sentia uma certa atração pelo mundo da moda; tecidos, formas e imagens são alguns elementos que sempre me sensibilizaram. Na época de decidir qual curso eu deveria ingressar na universidade, meus pais foram contra a ideia da moda, a maior parte da minha família é formada por cientistas e acadêmicos, ir para o universo artístico ficaria em segundo plano. Com poucas opções que me interessavam escolhi Economia. Me mudei para a França, onde obtive meu diploma em economia, em seguida, seguindo meus sonhos, estudei marketing da moda na Itália, mas ainda assim não me senti parte do mundo da moda. Trabalhei em diversas outras áreas, e continuava me sentindo perdida. No meu tempo livre meu hobbie foi buscar sempre marcas novas e designs que falassem comigo. Depois de alguns períodos de frustrações e muitas reflexões sobre a vida, sobre fazer aquilo que temos paixão, resolvi cogitar a possibilidade de entrar no mundo da moda. Com tantas dúvidas sobre qual área seguir dentre esse universo, tomei a decisão que une quase todas as áreas da moda: criar uma marca.
Q. Sua marca tem um conceito muito particular buscando remeter a um passado, a conexões mais humanas. Explica um pouco mais como isso funciona e da onde veio essa vontade de resgatar estas formas de relacionamento?
O passado sempre me inspirou: a literatura clássica, artistas dos anos 60, o modo de vida de outras épocas..
Eu sempre me interessei por histórias de pessoas mais velhas, de seus relacionamentos , da vida cotidiana e principalmente as histórias de amor. Olhando para o nosso tempo e pensando no passado, sinto uma certa nostalgia, por um tempo em que não vivi, onde cartas de amor eram escritas com uma maior frequência, quando éramos mais conectados individualmente uns com os outros, com o nosso entorno, onde vínculos eram importantes e valorizados. Hoje em dia tudo está muito fugaz e passageiro, muito efêmero, sinto que estamos vivendo uma época em que estamos esquecendo de olhar ao nosso redor, ao nosso lado.
Com a marca busco inspirar as pessoas a repensarem a forma de viver, a perceberem que aquilo que é precioso está nas pequenas coisas, nos simples gestos.
Q. É você quem cria os designs das peças? O que te inspira?
Sim! Tudo acontece de uma forma bem orgânica e natural, costumo sonhar com roupas lindas que nunca vi e em seguida tento colocá-las no papel, ao mesmo tempo estou sempre me divertindo a procura de tecidos, novas cores e texturas. Quando vejo algum tecido que me chama a atenção já vejo a imagem da peça e não me resta dúvidas da peça que este tecido dará forma. Ao lado deste processo espontâneo, a moda clássica; a arquitetura moderna, simples e minimalista; o céu nublado e chuvoso (acho extremamente romântico!); a França dos anos 60; A imagens de roupas que parecem ser algo que não é.
Q. Como tem sido a jornada empreendedora?
Surpreendente! Cada dia uma surpresa nova, um desafio novo, tomada de decisões, e principalmente várias lições de vida. Tive sorte em encontrar pessoas de bom coração, dispostas a me ajudar, me ensinar, pessoas dedicadas, profissionais qualificados que abriram as portas para a empresa e acreditam no projeto; claro que também muitas pedras no caminho, que sempre existirão e fazem parte do aperfeiçoamento. Aprendi que com força de vontade e determinação podemos ir até onde queremos.
Q. Você é uma cidadã do mundo. Filha de imigrantes, já morou em Paris, fala 5 idiomas. Como isto influencia na sua marca e na sua identidade?
Sempre senti que o mundo é muito pequeno e que de certa forma somos todos conectados, assim optei por desenvolver uma marca voltada para o mundo, que tenha uma linguagem clássica e simples. Sou muito inspirada pelo modo de vida francês e especialmente pela moda francesa, onde os detalhes fazem a diferença, menos é mais. Na cultura iraniana, os poemas, os desenhos florais nos tapetes e pinturas magnificas nos azulejos são verdadeiras fontes de inspiração; e a arte de viver dos brasileiros.
Q. O que podemos esperar de cada coleção?
Muitas surpresas! :) todas as coleções conversam umas com as outras, mas cada uma possui suas particularidades e surpresas! Estampas exclusivas, tecidos especiais e modelagens clássicas com um viés moderno. Logo vou lançar uma mini coleção de casaquinhos inspirada no meu país de origem, Irã, com um tecido bordado com fios de seda, termeh, da região de Yazd. Esta coleção é extremamente especial para mim, ela retrata não somente o vínculo e identidade com os meus ancestrais, como com a ideia de que é importante resgatarmos nossas raízes, e valorizá-las! Essa coleção, para mim, é um resgate e afirmação de origem e será apenas um passo inicial dessa caminhada.
Q. Foi difícil acreditar no sonho e seguir em frente para tirá-lo do papel, ainda mais sozinha? Qual dica você daria para quem ainda está na fase do sonho?
Demorei 30 anos para acreditar no meu sonho, tive que passar por muitas barreiras e frustrações na vida profissional para tomar a decisão de começar sozinha em uma área na qual nunca tive experiência. Sinto que a jornada até este momento tem sido parte do amadurecimento da tomada de decisão.
Inúmeras vezes escutei as seguintes frases: é muito difícil trabalhar no mundo da moda, muito difícil se destacar, é muito competitivo.. essas frases ouvi durante cerca de 15 anos, acreditei 100% a ponto de pensar que a moda seria somente um hobbie, e nada mais. A partir do momento em que decidi lançar a marca eu simplesmente fechei os ouvidos e cheguei à seguinte conclusão: tudo é difícil, tudo é competitivo, e em qualquer lugar ou área é difícil se destacar, então se eu não seguir a minha intuição, o meu sonho, acreditar que tudo é possível, de que vale a vida? Corra atrás, não aceite "não" como resposta, se você tem paixão, força de vontade e acredita em seu sonho, vá em frente.
Follow @sussanshokranian and shop
Credits: Photos Layla Mota