Construir Um Negócio e Criar uma Família é Mais Desafiador do Que a Gente Pensava

Uma amiga me mandou uma matéria do NY Times, que fala sobre como a maternidade é tipo um susto financeiro e de acúmulo de tarefas, principalmente para mulheres que se formaram na faculdade e estão no mercado de trabalho desde então. A matéria foi feita em cima de um estudo da Universidade de Yale, que ainda não foi publicado oficialmente, mas a conclusão é bem real.

Nós, mulheres, estamos deixando para ter filhos mais tarde, focamos na carreira até os 30 e poucos anos para depois casar e ter filhos. As crianças nascem quando normalmente a carreira está em uma crescente ou quando você decide que vai empreender e abrir um business. As chances de você estar construindo uma carreira enquanto cria uma família, ao mesmo tempo, é enorme. A sua alternativa são babás e pré-escola para acolher os pequenos, porque muito provavelmente a sua mãe e a sua sogra também trabalham ou são no mínimo ativas e não vão ficar com seus filhos no seu lugar.

Se você é do time do trabalho corporativo, primeiro precisa passar pela licença maternidade e a volta ao trabalho que deve ser cheia de questões, sentimentos dúbios, culpa, questionamentos, insegurança e uma dose de dúvidas sobre a sua própria capacidade, como mãe e como profissional. Depois de alguns anos sabe que vai sobreviver, mas talvez seja melhor se manter discreta no seu papel de mãe dentro da empresa. Recentemente uma amiga que trabalha em uma multinacional em um cargo top, me confidenciou que são poucas as pessoas que sabem que ela tem uma filha. Ela saiu para levar a filha ao médico uma vez e sabe que isso representa uma fraqueza, então é melhor ser discreta. Parece bizarro, mas é apenas a realidade.

Se você é uma super empreendedora, não muda muita coisa. Você não tem chefe, mas tem investidor. Isso depois que você encontrar um disposto a investir em você, afinal custo de oportunidade é tudo. Ou quem sabe você já está com a carreira mais sólida, começou seu negócio antes das crianças nascerem, tem clientes, funcionários e responsabilidades. Mas as crianças provavelmente ainda serão problema mais seu do que do seu marido. Para quem a babá liga quando está na hora de chamar um Uber? Aliás, ela tem o telefone do seu marido no celular dela?  

E se você está mais para autônoma/empreendedora criativa ou em busca de um trabalho com horário flexível, saiba que alguma coisa vai ser prejudicada e pelo menos o caminho vai ser bem diferente do que você está imaginando. Eu e boa parte das minha amigas mães nos encontramos nesse cenário. Outro dia, almoçando com duas amigas que tocam seus business, estávamos tentando falar sobre nossos negócios e projetos, enquanto eu atendia o marceneiro que tinha passado em casa para trocar a cama do Benjamin de quarto, a outra passava a dose do remédio para a babá porque um dos filhos ficou com febre e a terceira, começou a responder DM de uma cliente que acabou levando o resto do almoço todo. A gente não faz quase nada direito, não existe uma definição clara para nossos negócios no papel das prioridades, são todos negócios embrionários, que surgiram normalmente depois que as crianças nasceram, que ainda não representam significativamente no orçamento da família para "justificar a ausência" dessas mães estarem longe de seus filhos, mas ainda assim são necessários para a sobrevivência da espécie. E claro que a ideia é que os negócios virem e comecem a dar frutos reais e significativos, mas se o preço for não poder levar os filhos ao médico, talvez a gente tenha que repensar. E se a gente não se dedicar na medida certa, como ele vai acontecer?

Os custos reais de infraestrutura para ter filhos e o custo de tempo e mental é muito mais alto do que poderíamos imaginar. As expectativas com as mães e com os bebês são bizarras e a pressão com as novas mães são fora do aceitável. Funciona mais ou menos assim: Precisamos estimular nossos filhos com uma rotina de atleta, "20 minutos diário de atividades no tapetinho é tudo que seu filho precisa para ser o próximo Elon Musk"; vai começar a dar papinha (introdução de sólidos em grupos de mães), existe uma ordem: primeiro salgado (com sal ou sem sal vai depender do seu pediatra, que pode ser um louco dependendo do ponto de vista), depois doce (banana é considerada doce, e a primeira comida dos meus filhos foram a própria, não sei que tipo de consequência eles irão sofrer, o futuro dirá). Em algum momento aparece a janela da oportunidade ou qualquer nome parecido com esse. É um período de 2 meses que o que você der para o seu filho ele vai comer para o resto da vida. Os meus passaram esses dois meses comendo todo tipo de coisa que vêm da terra. Muitas eles adoram até hoje, outras eu não tenho a menor idéia, costumo focar no que dá certo. E nem vamos entrar no mérito da amamentação e do parto humanizado. E isso tudo fomos nós, mães, que inventamos.

É verdade que os pais evoluíram muito, mas a responsabilidade ainda é cor de rosa. Segundo o estudo, a maioria das mulheres que trabalha esperava que os maridos assumissem mais tarefas em casa, ao mesmo tempo que depois de terem filhos, essas mesmas mulheres têm um visão mais conservadora sobre o papel da mulher na família e normalmente são elas que abrem mão de uma carreira promissora para o marido voar. De alguma forma, o fator "não compensa" fala mais alto e acabamos abrindo mão de mais coisa.

A questão é que, quando você deixa de ser super ambiciosa e opta por algo mais light ou opta por não fazer nada at all, você sabe do que está abrindo mão. Fica bem claro. Mas quando você abre mão do tempo que tem com seus filhos, não sabe as consequências que isso terá no futuro. Um estudo da Universidade de Harvard comprovou que as filhas de mães que trabalham terão melhores carreiras e relacionamentos mais equilibrados. E, por outros fatores, como a nossa sanidade e garantia da nossa dignidade como ser humano, produzir, trabalhar, mesmo que voluntariamente, é maravilhoso, constrói caráter, precisamos disso. Então a solução não deveria ser nunca ter que escolher e sim dividir mais, para que essas consequências futuras, não caiam somente sobre as mães.

 

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Rosa Zaborowsky

Editor & Founder of thelolla.com and Mom of 3

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