Weekend Watch: The Great Hack - o documentário da Netflix sobre a Cambridge Analytica e o Facebook que é must watch.
Eu sempre tive uma boa noção de como funciona o tracking na internet. Aqueles produtos que “te perseguem” esperando para serem comprados nunca me assustaram, trabalhei com ecommerce bastante tempo para entender que é possível saber o que você, consumidor, quer e o que é preciso ser feito para te fazer comprar, e que é só um robô que acompanhada seus passos (os cookies e breadcrumbs, como na história do João e Maria que deixavam migalhas de pão pelo caminho). Isso é o custo que se paga por navegar na internet e comprar em uma loja online. Você entrega seus dados em troca de um benefício de compra, um experiência personalizada, etc. Contando que você saiba que isso as marcas vão usar seus dados para fazer você comprar mais, está tudo bem. Não é muito diferente de deixar seus contatos com o vendedor que sabe que você calça 37 e te liga quando chega algo que você vai curtir baseado nas suas compras anteriores.
O problema de deixar seus dados na internet é quando você não sabe para quê e por quem eles serão usados. Essa semana eu assisti um documentário na Netfxli, The Great Hack (Privacidade Hackeada em português), sobre o escândalo da Cambridge Analytica e do Facebook, durante a campanha eleitoral do Trump e do Brexit. A Cambridge Analytica era uma agência estratégica que trabalhava com base de dados para atingir os objetivos de seus clientes manipulando notícias falsas para um target específico. No caso das eleições americanas, funcionou assim: A Cambridge Analytica criou aqueles testes de personalidade no Facebook que todo mundo adora fazer, sabe? As pessoas em geral amam autoconhecimento, é quase um auto-elogio que faz bem para o ego. Quando você clicava para fazer o teste, além de traçar um perfil seu, baseado nas respostas que você dava, a Cambridge tinha acesso a toda a sua rede de amigos do Facebook e recolhia informações sobre eles também, tudo sem você saber. Na verdade, eles diziam que poderiam acessar seus dados, ali naquele “Terms & Conditions” que você provavelmente não leu nunca e aceitou sem questionar, então você meio que deixou isso acontecer. Mas o problema é que ninguém sabia o que eles estavam aprontando. Se o algoritmo da Cambridge entendia que você era “persuable” ou seja, poderia ser convencido a votar no Trump, ele te bombardeava com notícias falsas que te deixavam com medo (de potenciais ataques terroristas e da imigração) e com raiva (da Hilary Clinton), fazendo você acreditar que só o Trump poderia te salvar desse cenário. E tudo que eles precisavam era um quantidade pequena de eleitores que fizessem essa mudança, Trump ganhou da Hilary por 70.000 votos.
Essa tática foi a mesma usada no Brexit, manipulando os potenciais votantes com medo e raiva. A base da teoria da Cambridge Analytica é bem humana, antropológica e social. Eles (os heads de estratégia e as pessoas que contratavam a Cambridge Analytica) partiam do princípio de que, para você organizar uma sociedade de acordo com o que você quer, é preciso primeiro quebra-la, para depois moldar do seu jeito. Para quebrar você instaura o medo e a raiva, dividindo a sociedade politicamente. Como foi nos Estados Unidos, como foi aqui no Brasil pela primeira vez em um disputa eleitoral, no Brexit, na França e em outros países europeus com o avanço da direita conservadora. Com a sociedade quebrada, fica mais fácil reconstruir do jeito que você quer. Não é assustador imaginar que existem pessoas manipulando as decisões que vão mudar o mundo e afetar a vida de todas pessoas, por interesse próprio?
QUESTIONE TUDO
Eu assisti uma entrevista do Obama para o David Letterman, no novo programa dele, My Next Guest Needs No Introduction, que passa na Netflix. Ele comenta da bolha do algoritmo que é a internet e como isso está deixando as pessoas menos questionadoras e mais limitadas. As suas buscas no Google, Facebook, Instagram e etc aparecem de acordo com o seu comportamento. Se você só procura informações sobre vinhos da California, não sai da California, não procura diversificar seus vinhos, você vai ser bombardeado com informações sobre Napa Valley e vai perder milhares de oportunidades de conhecer outros vinhos do mundo. A mesma coisa acontece quando você só segue republicanos, ou democratas, ou petistas, ou bolsonaristas. É preciso ampliar a base de conhecimento, saber o máximo possível de todos os lados, para evitar a manipulação. Nunca foi tão importante não acreditar em tudo que se lê e questionar sempre.