Os caderninhos de anotações e a nossa relação com eles

 Love letters, by Smythson

Como jornalista sou suspeita para falar, prefiro mil vezes papel e caneta na hora de escrever, seja uma entrevista, uma palestra, anotações semanais ou muito especiais. E para tudo isso, tenho meus fiéis caderninhos e uma agenda que andam comigo por todo lado.

Claro que a nota do celular, o gravador e até mesmo a amiga no WhatsApp que recebe as mensagens de “só pra eu não esquecer”, ainda seguem firmes e fortes, mas a boa e velha escrita raiz - com papel e caneta – está cada vez mais presentes no dia a dia das pessoas, mas para algumas, nunca deixou de estar.

É o que comenta Liana Pandin, proprietária do Ateliê de Calças e amante dos caderninhos assim como nós, “eu sempre fui apaixonada por papelaria, tinha coleção de papel de carta, adesivos e sempre fui supercuidadosa, guardava em pastas, separava por tema... Tive agenda/diário até uns 17 anos.” E a mãe dela sempre encadernava e desenhava os seus cadernos de escola à mão. Isso é muito nostálgico, né? Lembro que minha mãe fazia lindas capas de trabalhos para mim e para minha irmã, muito antes de PPT ou qualquer outro programa existir - ou tomarmos conhecimento deles. Acredito na profundidade emocional de tudo isso, que vai muito além de estética, é algo que somente o “feito à mão” pode proporcionar. Que bom ter vivido isso e que bom ver isso voltando aos dias de hoje.

A paixão antiga também é o caso de Marília Carvalhinha, engenheira de produção, gestora estratégica e professora de pós-graduação de negócios e varejo de moda, que desde criança amava desenhar: “Os itens de papelaria já fazem parte das minhas paixões desde muito cedo. Mais tarde, nos cadernos da faculdade de engenharia, eu tentava representar as ideias em diagramas com vários desdobramentos, o que facilitava a minha compreensão dos temas”, e os cadernos de Marília eram tão requisitados pelos colegas, que no xerox da faculdade já existia uma cópia para os que sempre recorriam à eles.

Arrisco dizer que não deixamos os caderninhos de lado porque é mais gostoso, mais real anotar à mão as informações de uma palestra, de uma conversa ou de ideias que surgiram de repente e serão de extrema importância lá na frente. E por isso, ter um caderno específico para cada coisa, torna-se essencial para quem gosta de escrever muito. A Liana, por exemplo, desenvolveu um jeito de trabalhar organizada com eles: “Separo por tema, ou por ano. Na verdade nas minhas viagens eu sempre compro cadernos, vou estocando e quando surge a necessidade eu vou usando”.

Quem é fã de verdade da escrita, sabe que ela é única e que dificilmente pode ser substituída 100% pelas tecnologias, como comentei, os celulares são ótimos auxiliadores, mas “um texto corrido não é adequado para representar ideias multidimensionais de maneira rápida”, é o que aponta Marília.

Fãs de papelaria irão entender esse sentimento. Comprar uma agenda nova ou um caderno novo traz a sensação de renovação, destaca Liana: “É como se você pudesse começar tudo do zero ou como se pudesse ser a primeira vez que está ali, escrevendo sobre aquelas ideias”.

E comprar um caderninho somente por comprar, não é algo que as pessoas façam, pelo menos não as que realmente se conectam com a escrita e que possuem um sentimento por trás de tudo, é o que comenta Marília: “acredito que estabelecemos um vínculo emocional muito maior quando escrevemos ou desenhamos no papel. A textura, o cheiro, a tonalidade das cores quando a luz é refletida, a impossibilidade de deletar... São atributos que o digital não tem e que tornam o ato do registro muito mais significativo.

Anotar as ideias em um caderninho é deixar fluir tudo de mais real, mais bonito, e às vezes mais difícil ou complicado que temos dentro de nós. Vai além do que alguém está dizendo ou do que estamos lendo e transcrevendo, são as ideias a respeito dos assuntos, a respeito do mundo, sendo escritas a partir da visão de cada um. É algo prazeroso, algo verdadeiro. Como é sua relação com os caderninhos e com a escrita? Vou adorar saber mais.



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