Perks of Working for Yourself

Num curto período em que fiz terapia, lembro que uma das minhas queixas era minha falta de religiosidade. Sentia necessidade de me conectar com algo maior, de ter fé. Algo que existia antes em mim, nas minhas memórias da infância, mas que, por alguma razão, foi se perdendo ao longo da vida. Assim como lembro da queixa, não esquecerei quando a minha terapeuta disse que eu era uma das pessoas mais religiosas que ela conhecera na vida. Quem? Eu? Ela não falava da frequência com a qual eu costumava frequentar a igreja ou a sinagoga, ou rezar em casa, ou das promessas realizadas. Ela falava no sentido literal: de religar, de conectar, de se comportar de forma organizada em relação à humanidade e a seus valores morais. De fato, sempre fui uma pessoa conectada aos outros, preciso deles para me realizar, e sou feliz em grupo.

Estranhamente, escolhi uma profissão autônoma. E não é pela primeira vez. Sou consultora de imagem e trabalho sozinha. Por um lado, realizo-me nas relações com minhas clientes, fazendo um trabalho muito especial para mim e para elas, diretamente ligado a autoestima. Uma satisfação enorme. Por outro lado, estou só, e assim é grande parte do meu tempo profissional. O auto estímulo é uma injeção difícil de ser aplicada no dia a dia. Tem aquele simples post que você preparou e não tem para quem perguntar se está bom ou não, se preciso melhorar. Recorro a algumas amigas próximas, à minha mãe, ao marido. Marco cafés ou mesma reuniões em busca de informações e trocas de ideias. Mas nem sempre isso funciona. Então sou eu, comigo mesma. Pergunto e eu mesma respondo.

E por que estou contando isso tudo aqui? Não se trata de lamentação, muito pelo contrário. O profissional autônomo, como o próprio nome diz, tem a-u-t-o-n-o-m-i-a. A liberdade de escolha tem seu lado precioso. Além disso, para a minha alegria e para a alegria de tantos outros profissionais e pequenos empresários, existem iniciativas e projetos incríveis para nos reunir e quebrar o silêncio.

Participei, no final de abril, do IT Brands, evento que reúne marcas autorais fora do circuito shopping center, oferecendo uma experiência mais intimista de consumo a um público high end. Eu era uma num grupo de seis stylists que oferecia aos clientes consultoria de estilo no evento. Tive o grande prazer de conviver nesses dois dias com colegas de profissão talentosas e generosas, com marcas incríveis e com pessoas sensacionais por trás delas. O evento, orquestrado pelas sócias Eva Bichucher e Luciana Giannella, criou uma energia poderosa, enriquecendo todos ali com trocas de experiência e de apoio, uma força poderosa num mercado hiper competitivo.

Para uma profissional solitária, como me descrevi, e sedenta por conexão, como bem avaliou minha terapeuta no passado, esse foi um espaço perfeito para me “abastecer”. Fiquei me perguntando quantas ali não estariam sentindo o mesmo? Em um dos atendimentos que fiz, ao devolver uma peça que minha cliente e eu não escolhemos, a responsável pela marca pegou minha mão e disse: “Obrigada pelo empenho”. Um reconhecimento genuíno, sem nada esperar. Esse era o espírito.

Volto para a minha “solidão”, enriquecida por esses momentos e esperando pelo próximo. Semana passada teve o Lolla Market, evento com curadoria incrível da Rosa Zaborowsky, nossa editora. Lá fui eu para mais uma oportunidade de me conectar, porque era certo que encontraria pessoas interessantes. São os templos que encontro para colocar em prática minha religiosidade.




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