Motherhood Around the Globe: Sobre Criar Filhos na Itália, por Mariana Marchioni
Q. Como foram os primeiros anos na Europa?
Foi um turbilhão de emoções porque em pouco tempo eu saí da zona de conforto da casa dos meus pais no Brasil para me ver com marido e filho e um oceano de distância. Acho que tudo aconteceu tão rápido que eu fui reagindo sem racionalizar muito.
Q. Você sempre quis morar fora do Brasil?
Sempre tive vontade de viver uma experiencia fora do Brasil! Minha mãe morou um período em Lyon, na França, e eu lembro de ter me apaixonado pelo lugar e disse que um dia iria morar ali! Acabei não indo para Lyon mas estou apenas a algumas horas de distância. Essa vontade estava sempre quietinha na minha mente e quanto terminei um mestrado senti que fazer um doutorado no exterior seria a oportunidade perfeita! Fui falando com os professores da universidade pedindo contatos no exterior até que acabou dando certo com um professor de Milão.
Q. Como é um dia típico em Milão?
Eu levo meu filho maior na escola caminhando e volto para casa, aproveito para fazer algumas coisas de trabalho e em casa com a pequena brincando do meu lado. Depois que busco ele na escola se é um dia bonito ficamos no parquinho e depois é a maratona jantar-banho-história-dormir. Quando eles dormem normalmente eu estou acabada e no máximo leio um pouco ou assisto Netflix e vou dormir. Pelo menos uma vez por semana eu vou para a universidade e saio um pouco de casa – eu gosto de alternar um pouco, quando saio depois quero ficar em casa e vice e versa.
Q. Como é criar filhos europeus?
Eu sinto que aqui na Itália não é muito diferente do Brasil, ou pelo menos não é diferente da minha família. Acho que a maior diferença que vejo é no consumismo que sinto que aqui é bem menor, parece que ultimamente o brasileiro se espelha muito nos Estados Unidos. Eu morei um período nos EUA e você é sempre bombardeado com a ideia de consumir, as datas comemorativas normalmente tem esse objetivo e aqui eu sinto isso bem menos, inclusive as lojas são menores, tem menos opções. Acho que o italiano preza muito mais a qualidade e durabilidade das coisas e isso reflete na educação das crianças.
Por exemplo, o primeiro natal com criança aqui eu fui buscar o Papai Noel no shopping e fiquei super decepcionada porque não tem decoração nenhuma! Depois descobri que toda a decoração de natal fica concentrada nos mercadinhos – tem um que fazem aqui em Dezembro que é como um parque de diversões, as crianças adoram!
Q. Alguma dica sobre viajar com crianças pela Europa?
Acho super tranquilo viajar com crianças na Italia, onde você estiver vai sempre ter um parquinho em um raio de 500 metros, ou seja, sempre opção para cansar os pequenos. Em Milão particularmente a acessibilidade permite andar com o carrinho tranquilamente e fácil se locomover. Aqui eu recomendo levar as crianças nos parques Sempione e Indro Montanelli que tem brinquedos fixos além do playground normal e visitar o MUBA, um museu com atividades para crianças, e para os maiorzinhos o Museu do Ciências.
Quanto hospedagem, na Itália é a coisa mais normal do mundo pedir no hotel ou no Airbnb um berço tanto que eu nem senti necessidade de comprar aqueles desmontáveis.
No verão eu adoro curtir as praias daqui que tem águas bem calmas e baixas, a minha preferida é Alassio na Liguria! Recomendo também a Emilia Romagna para crianças pois tem sempre muitas atividades. No inverno é legal ir para a montanha, mesmo quem não gosta de esquiar as crianças se divertem muito na neve fofa.
Em relação a alimentação a maioria dos restaurantes tem opções para crianças, em qualquer lugar eles fazem uma pasta al pomodoro para os pequenos mesmo que não esteja no cardápio e normalmente são bem pacientes com crianças.
Q. O que você mais sente falta do Brasil morando longe?
Eu sinto muita falta da presença e suporte da minha família, não tanto do Brasil em si. Sabe aquela expressão “it takes a village to raise a child”? ‘Acho que a convivência com os parentes, seja avós, tios, primos, é muito rica para o desenvolvimento das crianças e eu sinto muito o fato eles não terem essa experiencia com a minha família. Eu tento pelo menos compensar nas férias!
Q. Como morar na Europa influenciou no seu estilo?
O estilo da mulher milanesa é bem clássico e um pouco masculino, no dia a dia elas usam pouco saias, vestidos e sapatos altos – acho que é uma questão de praticidade porque é bem complicado andar de carro no centro de Milão e as pessoas acabam andando muito a pé e de scooter. Eu mesmo passei a usar mais calça e praticamente só sapato baixos morando aqui! Tenho a sensação que o guarda roupa da mulher e do homem é quase igual, se eu usasse o mesmo tamanho do meu marido acho que a gente podia juntar tudo. Imagina que prático!
Q. Como você lida com a solidão?
Eu sinto muita falta da minha família, mas não penso que sofra de solidão pois com duas crianças pequenas e bem difícil estar sozinha. Por sorte eu tenho amigos queridos aqui, alias meu defeito é que não consigo dar muita atenção a eles! Sou completamente culpada de usar meu tempo livre na frente do Netflix.
Q. Última compra que fez?
Ultimamente eu compro mais para as crianças! Eu gostei muito da colaboração Nathalie Lete x H&M kids e acabei comprando varias peças! A ultima compra para mim foi uma parka bem quentinha da J.Crew para enfrentar os dias de frio. Agora que começa o calor eu estou pensando em comprar um sneaker Veja que eu queria ter comprado em dezembro mas achei que ia acabar usando pouco no frio.
Q. Livro que está lendo?
Para manter a meta de ano novo de melhorar meu italiano escrito estou lendo um livro de história italiana do jornalista Indro Montanelli. O livro trata do período do final do império romano e apesar de ser bem cansativo eu estou gostando muito, principalmente porque percebo como a história muitas vezes se repete.
Q. Um dica de local para quem está planejando uma viagem para a Milão.
Tente ficar mais de um dia! Muita gente usa Milão só como ponto de apoio, falando inclusive que um dia basta para ver tudo, mas a cidade tem muitas atrações além das obvias. Milão é uma cidade bem cosmopolita, temos vários museus e espaços para exposições temporárias e sempre tem muita coisa legal acontecendo, uma infinidade de bons restaurantes, construções com arquitetura incríveis, muitas opções de compras. Eu tenho recomendado amigos de não deixar de visitar as zonas novas da cidade como Porta Nuova, que foi revitalizada nos últimos anos e o City Life District.