Interview: Manuela Rodrigues, founder Cabana Craft
Q. Você é formada em que? Conta um pouco do seu background.
Sou formada em moda pela Santa Marcelina, em SP. Sempre soube que gostaria de estudar e trabalhar com moda. No colegial, enquanto os outros faziam cursinho a tarde, fiz 2 anos de corte e costura na Singer, no Largo de Batata. No terceiro ano da faculdade, comecei a estagiar na Maria Garcia, segunda marca da Huis Clos, virei assistente e acabei trabalhando lá por 3 anos e meio. Foi uma grande escola, aprendi muito e tive o privilégio de conviver com a Clô. Trabalhei lá até 2008 quando me mudei para a França para fazer uma pós em Moda na Universidade de Lyon. Tinha muita vontade de morar fora e apliquei para uma bolsa de estudos. Estudei 9 meses em Lyon e no fim do curso fui para Paris fazer um estágio, que acabou virando um trabalho, e acabei ficando mais 4 anos e meio na cidade.
Q. Você morou um tempo fora e trabalhou em marcas incríveis, como na Hermes. Qual você acha que é a principal diferença na maneira dos europeus trabalharem e a nossa, dos brasileiros?
Toda a indústria da moda é muito mais profissionalizada lá. Aqui tudo é mais informal e improvisado. Somos muito criativos mas falta rigor, principalmente no cumprimento de prazos.
No Brasil o papel do estilista é valorizado e os outros nem tanto. Na Europa, todos os envolvidos na cadeia são importantes e eles valorizam muito a figura do artesão, existe uma preocupação real de preservar as tradições, técnicas, o que eles chamam de métier e savor-faire. Sinto também que existe uma grande corrida para atingir um padrão de excelência, especialmente na França e na Itália.
Q. Você sente falta de alguma coisa da dinâmica deles?
Existe um excesso de formalidade e uma hierarquia que não existe aqui, que acaba engessando alguns processos.
Q. Em que momento resolveu empreender? Como nasceu a Cabana?
Quando voltei para o Brasil, em 2013, não me identificava muito com nenhuma marca nacional, também não acreditava mais no calendário da moda, em sua efemeridade, no sistema de showroom , venda no atacado etc... principalmente aqui, que nem temos uma cultura de moda tão forte e estações tão definidas. Paralelo a isso, comecei a me voltar para um estilo de vida mais saudável, menos consumista, queria ter mais tempo, tinha muita vontade de ter meus próprios horários e fazer algo que realmente acreditasse e propor isso para as pessoas. Dai surgiu a necessidade de empreender e a proposta da Cabana, onde o conceito de coleção não existe. Os produtos são atemporais, os designs descomplicados, " lowprofile" e de qualidade, feitos para durar, sempre à partir de matérias primas naturais e técnicas manuais.
Q. Como é um dia típico seu?
Normalmente acordo por volta das 7h30.
Tomo café em casa com meu marido e, se posso, gosto de me exercitar pela manhã. Quando não consigo vou na hora do almoço. Faço yoga, nado ou gosto de caminhar.
Costumo chegar na Cabana um pouco antes das 10h. Tenho sorte pois moro na rua do meu ateliê.
Durante a manhã faço reunião com fornecedores e monitoro as produções, entregas e estoque. Como tudo é feito à mão e em pequena escala, não trabalhamos com muito estoque para não haver desperdícios, logo estou sempre de olho para ver o que preciso produzir mais e o tempo todo em contato com as oficinas e artesãos. Pelo menos duas vezes por semana visito as fábricas para ver o andamento das produções e novos desenvolvimentos.
Na hora do almoço aproveito para marcar almoço com minha mãe ou com alguma amiga, é nessa hora que aproveito para deixar as vendas do site nos correios também, geralmente vou de bicicleta.
A tarde faço mais reuniões e no final do dia costumo me dedicar mais ao trabalho de pesquisa, desenho e novos desenvolvimentos. Geralmente é a hora mais tranquila do meu dia.
Normalmente fico no ateliê até as 19h.
Q. Como é seu processo criativo?
É bem caótico rsrsrs.. não existe começo, meio e fim. Estou sempre de olho em tudo e pesquisando novas possibilidades, principalmente novos materiais, técnicas e em contato com diferentes artesãos. As idéias e projetos vão surgindo desses encontros e estou sempre desenvolvendo coisas novas. Gosto muito de explorar materiais naturais diferentes e muito dos produtos que crio vem desses encontros e das possibilidades que esses materiais e artesãos oferecem. Há um tempo atrás criei bolsas com detalhes em latão e madeira esculpida à mão, agora estou trabalhando com um grupo de artesãs da Bahia e desenvolvi vários modelos em palha de piaçava e couro.
Q. O que você mais gosta de fazer no seu trabalho?
Sem dúvida criar e tirar do papel minhas idéias, ver aquilo se materializar. Também adoro o encontro que tenho com esses artesãos e com tantas pessoas diferentes. Acho super estimulante.
Q. E que mais te deixa de mau humor?
Atrasos de produção rsrsrs.. .às vezes os processos são longos e tenho que ficar muito em cima para os projetos acontecerem.
Q. Alguma girl crush?
Humm.. não sei..
Q. Quais os planos para a Cabana Crafts para 2019?
Logo no começo do ano vamos lançar nosso novo site, todo reformulado. é algo que queria fazer há bastante tempo e já está quase pronto.
Também gostaria de aumentar nossa loja, que está ficando pequena demais.
Q. Onde passou o réveillon?
Fui para Nosara, na Costa Rica. Surfo de longboard e lá é um dos melhores lugares para praticar, além do clima tropical e da natureza incrível.
Q. O que tem na sua cabeceira?
Um livro (sempre, adoro ler e me ajuda a desconectar), um copo d'água e meu aromatizador com óleo essencial de lavanda (adoro).
Q. Um joia que você não tira.
Uso vários anéis e aliancinhas que vim acumulando ao longo dos anos, todos juntos no mesmo dedo. Uso todos os dias, há uns 10 anos, esse meu dedo ficou até mais fino por conta disso rrsrs.. também adoro um pingente de coração meio bruto da joalheira Thais Costa, uso todos os dias.
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