Estariam nossas amizades sendo administradas pelos grupos do Whats?

 Image: Mydomain.com

A gente sempre se depara com notícias que afirmam que pessoas que têm amizades verdadeiras vivem mais e melhor. Pode ser um estudo de Harvard ou uma pesquisa feita na Dinamarca: a amizade saudável sempre vem para somar.

Particularmente, minhas amizades são divididas em diferentes turmas (da faculdade, de infância, do trabalho, da escola, etc). Às vezes, essas panelas até se cruzam, mas frequentemente são conduzidas separadamente. E é engraçado pensar que hoje a gente pode estar administrando nossos amigos por grupos no Whatsapp... Se quando a gente era criança, ouvia metáforas sobre seus amigos serem como flores em um jardim (cafona, eu sei) que deveriam ser regadas e cuidadas, hoje, estamos presentes nos grupos e é ali que muitas novas dinâmicas se formam. 

E os grupos deixam a gente ao mesmo tempo tão perto e tão longe dos nossos amigos. Pelo celular, trocamos memes, notícias, nos engajamos em discussões (algumas saudáveis outras nem tanto), mandamos fotos dos nossos looks, da onde estamos, das nossas viagens. Isso tudo é ótimo, mas não é o suficiente, é claro. Quantas vezes alguém não propõe um jantar, um almoço, um cinema ou qualquer coisa que tire a gente do online? E quantas vezes a resposta é “cri cri cri”?

Estamos nos tornando mais preguiçosos no cultivo das nossas amizades? 

A sensação de falar por mensagens de texto com todas aquelas pessoas traz, sim, um sentimento de presença, principalmente quando há distância envolvida. No entanto, uma conversa ao vivo é tão mais rica – e sabemos muito bem disso, mas parecemos esquecer quando temos de nos esforçar para limpar a agenda e realmente fazer um encontro acontecer. 

Ontem mesmo, depois de um tempo tentando, eu e três amigos finalmente nos reunimos (infelizmente, nem todo mundo do grupo conseguiu ir). E posso falar? Aquela coreografia de um jantar em casa realmente não se compara com uma discussão acalorada pelo Whatsapp: 

Você arruma a sala, acende velas, coloca a mesa... as pessoas chegam, abrimos um vinho, falamos sobre a vida amorosa, reclamamos do trabalho, abrimos outro vinho, sentamos à mesa para comer um estrogonofe delicioso (pedido pelo delivery mesmo), a travessa da batata palha é derrubada acidentalmente em cima da do estrogonofe, caímos na risada, falamos sobre viagens, a mesma pessoa que derrubou a batata, de tanto gesticular, derrubou o copo de refrigerante no prato do outro, risadas novamente. Depois de um tempo, voltamos para o sofá ou sentamos no chão. Alguém dá a ideia de abrir a mala de roupinhas do bebê que vai chegar, tiramos uma por uma, fazemos planos... O sono vai batendo, todo mundo chama seu Uber e vamos dormir com uma sensação de prazer, pensando naquelas 3 ou 4 horas que nos encontramos em carne e osso deixamos o celular de lado (ok, nem tanto, também postamos fotos no Insta e interrompemos um papo ou outro para responder algo do trabalho).  

Se isso não é bom para nossa saúde, não sei o que mais seria...

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