Pale Skin: Por que os Asiáticos são Obcecados por PELE CLARA?

Paula Trombini

O tema do mês – self-care –, me fez pensar muito o quanto é importante cultivarmos esse hábito do autocuidado.  É o nosso me time, aquele momento em que não devemos nada para ninguém e que podemos ser quem queremos.

 

Em uma sociedade que tenta a todo tempo nos colocar dentro de caixinhas, fica difícil, muitas vezes, diferenciarmos o que realmente nos faz bem e o que a sociedade tenta nos impor que nos faria bem. O autocuidado de verdade, aquele que vem de nós mesmos, acaba sendo um ato de resistência. Mesmo no século XXI, ainda crescemos ouvindo qual o jeito certo de ser e agir.

 

Esses padrões impostos pela sociedade são assuntos polêmicos, que geram discussões a perder de vista, mas eu não podia deixar de colocar mais lenha nessa fogueira em um assunto que me intrigou desde o momento que pisei pela primeira vez aqui no Vietnam: a obsessão que o asiático tem pela pele clara. Um padrão social imposto há muitos anos que reverbera até hoje.

 

Foto: Pinterest

A pele escura, queimada do sol está associada com trabalhadores do campo, à área rural. Enquanto a pele clara é associada às pessoas que vivem em cidades grandes, com estruturas indoor e mais confortáveis. Ou seja, a cor da pele acaba sendo diretamente relacionada com a classe social de quem seria eventualmente bem-sucedido e com a possibilidade de desenvolver o intelecto versus quem não teria tido as mesmas oportunidades. Pesado, não é mesmo? Puro status.

 

Por aqui, mesmo no calor de 40º graus, é comum ver nas ruas pessoas super cobertas e encasacadas para se protegerem do sol. Marcas como a japonesa Uniqlo, vendem luvas especiais para cobrirem os braços, por exemplo. Claro que é importante usar filtro solar e nos protegermos do sol, ainda mais em países onde o verão dura quase o ano todo, mas esse buraco é muito mais embaixo. Ele sai do campo do autocuidado e entra totalmente no âmbito do padrão social.

 

Cremes, pílulas e vitaminas de diversas marcas – muitas delas globalmente conhecidas –, facilmente disponíveis nas prateleiras de qualquer farmácia aqui na Ásia, prometem o milagre do clareamento da pele.  Um mercado que movimenta bilhões de dólares e que, segundo a empresa de inteligência de mercado Global Industry Analysts, irá chegar a $31.2 bilhões em 2024. Tudo isso para você conseguir ter a pele clara e mostrar para a sociedade que você pertence a uma classe de status mais elevado.

 

Não podemos esquecer que a história da Ásia e, principalmente, do sudeste Asiático é marcada por exploração de colonizadores nos campos de agricultura e que essa história é recente. A maioria das cidades desenvolvidas por aqui, são muito novas, mas isso é papo pra outra hora.

 

 

O produto Snowz – um suplemento clareador de pele que tem como estrela da campanha a atriz tailandesa Cris Horwang, de pele bem branquinha –, vendeu o produto na Tailândia, com o slogan: “White makes you win.”.

Aqui no Vietnam, o produto Ritana Skin Whitening também mostra na sua propaganda que à medida que a modelo fica mais branca ela parece mais feliz e com uma postura mais confidente.

 

Esse conceito começou há séculos atrás e já está estruturado na sociedade. Existe um antigo ditado chinês que diz: one whiteness covers three kinds of ugliness (“uma brancura cobre três tipos de feiura” – tradução livre). Esta tradução mostra o quanto a idéia é forte.  Significa colocar a cor da pele como uma virtude importante, quase como um valor.

 

Essa quase verdade absoluta aqui da Ásia, acabou influenciando todas as nações vizinhas: Japão, Coreia do Sul, Vietnam, Tailândia, Singapura, Filipinas e por aí vai. A Organização Mundial de Saúde estima que 40% da população dessas nações usam produtos para clarear a pele. Uma indústria bilionária, que está construindo padrões impossíveis de serem alcançados. Eu não consigo nem pensar no quanto isso é grave, e no quanto isso mexe com o psicológico das pessoas.

 

Foto: Monia Lippi

 

Outro dia, nós fomos esquiar no Rio Saigon e o vietnamita que estava dirigindo a lancha estava de casaco, luvas e boné embaixo do calor de 40 graus. Perguntei se ele não estava com calor. Sua resposta foi dada com a maior naturalidade: “se eu tomar sol, a minha namorada termina comigo.”. Parece surreal, mas eu juro que esse é verdade esse “bilhete”!

 

A boa notícia é que apesar da obsessão pela pele clara ainda ser reforçada pela mídia e de existir uma facilidade muito grande ao acesso a esses produtos, já existe um movimento dos jovens, principalmente do K POP (alô geração Z), para tentar quebrar esse padrão insano. Ufa!

 

Como disse a Bianca no seu texto aqui no Lolla: “o self-care também é autoconhecimento”. E, consequentemente, aceitação.

 

Não podemos deixar que esses padrões impostos venham disfarçados de autocuidado. Que possamos nos dedicar cada vez mais a esses nossos momentos, que são pura resistência no meio desse mundo cheio de padrões e informações malucas. Que possamos perceber o que realmente nos faz bem. Afinal, são esses momentos que nos dão força e nos permitem abrir portas para sermos quem realmente somos. Um salve ao verdadeiro self-care. Aquele que realmente é um ato de amor e cuidado com nós mesmos.

 

Já dizia Coco Chanel: “Beauty begins the moment you decide to be yourself.” (A beleza começa no momento em que você decide ser você mesma – tradução livre)

 

Fotos da fotógrafa Monia Lippi em Ho Chi Mihn, no Vietnã 

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