Nome:
Victoria Panzan
Onde Mora:
Kuala Lumpur, Malásia. E nasci em São Paulo, Brasil.
O que você faz:
Me formei em Direito e atuei sempre na advocacia empresarial. Quando me mudei para o exterior, enveredei para o mundo corporativo e hoje em dia trabalho com Recursos Humanos e Compliance.
Q.
Como vocês foram parar na Malásia?
A.
Viemos para a Malásia em 2018, por conta do trabalho do meu marido. Ele trabalha com Finanças numa empresa de consultoria e aceitou o convite para liderar uma equipe no Sudeste Asiático, baseado em Kuala Lumpur, na Malásia.
Éramos recém-casados e havíamos mudado para o nosso novo apartamento há 20 dias quando recebemos a notícia da transferência. Aquele estava sendo um ano de muitas mudanças felizes na nossa história como casal, então aproveitamos o embalo e a adrenalina e nos mandamos para o outro lado do mundo.
Q.
Como foi contar para a familia que estavam indo para um lugar tão longe?
A.
Morar no exterior era um desejo nosso e já flertávamos com alguns destinos há bastante tempo. As famílias sempre incentivaram o plano, mas imaginando que iríamos para um lugar mais perto de casa.
Quando apareceu a oportunidade de virmos para a Malásia, recebemos apoio instantâneo, mas não sem alguns corações partidos. A distância é imensa e desde o começo todos sabíamos que essa mudança implicaria em passarmos muito tempo separados.
A despedida doeu, mas viemos sem olhar para trás e sabendo que não haveria momento melhor para embarcar numa aventura dessas.
Q.
Como foi se adaptar a vida por aí?
A.
Foi surpreendentemente fácil.
O clima aqui é tropical, todo dia tem sol e calor. Viver num verão permanente ajudou bastante a manter o ânimo para sair de casa e explorar a cidade assim que chegamos. Kuala Lumpur é bem cosmopolita, com muitas facilidades e não deixa a desejar quando comparada a outras grandes metrópoles.
Além disso, apesar do idioma oficial ser o malaio, a língua corrente é o inglês, que já dominamos, e não ter que vencer essa barreira ajudou bastante a nos sentirmos integrados desde o começo.
Q.
O que você mais gosta da vida na Malásia e o que menos gosta?
A.

Q.
Quando se viu grávida, como foram seus sentimentos?
A.
Ter filhos sempre foi um grande sonho, mas eu sonhava com a maternidade em abstrato. Queria vivê-la, mas sem saber direito o que esperar. Quando o teste mostrou positivo, fiquei paralisada e cheia de medo. Sofri com algumas aflições mais imediatas, tipo como ficaria o meu trabalho e se realmente caberia uma criança no nosso orçamento. Me questionei se realmente saberia cuidar de um bebê, se meu casamento sobreviveria e se iria “estragar o corpo”, como ouvia por aí que aconteceria.
E também bateu uma insegurança quando percebi o tamanho da responsabilidade que havia assumido. Eu estava gerando uma pessoa com a qual eu teria vínculo até o fim dos meus dias! Teria que criá-lá, niná-la e educá-la, e eu não tinha tanta certeza assim se faria um bom trabalho. Superar esse medo inicial foi a parte mais difícil e eu só consegui começar a curtir a gestação depois de algumas semanas, já com essas questões um pouco mais resolvidas dentro de mim.
Q.
E como é ter um bebê na Malasia?
A.
A Malásia tem um sistema público de saúde, mas ele está disponível apenas aos cidadãos. Como estrangeira, eu só tenho acesso à rede particular, que também é excelente. Fiz todo o pré-natal com uma obstetra da minha escolha e confiança, com todos as consultas e exames bem parecidos com os do Brasil.
A grande diferença está mesmo é no pós-parto. As culturas orientais de maneira geral têm um protocolo bastante específico e extenso para o período do resguardo, e costumam seguir isso à risca. Dentre as recomendações, está não lavar o cabelo por 40 dias, comer apenas comidas de fácil digestão, tipo sopas e legumes cozidos, vestir roupas quentinhas e usar meias nos pés, além de receber diversas massagens e oleações. Há uma legião de profissionais especializadas no cuidado à mulher recém-parida e as pessoas me olhavam com espanto (e até com certa pena) quando dizia que não esse não era um costume no Brasil.
Até cogitei a ideia de contratar esse serviço, mas achei que era muita coisa e não quis adicionar mais um elemento ao meu puerpério. Talvez no próximo filho, já sabendo melhor o que me espera, eu anime mais para seguir esses rituais.
Q.
Você seguiu alguma recomendação da cultura Malásia no pós-parto?
A.
Q.
Como é o papel do pai nesse período? Como é a sociedade (culturalmente) na Malásia?
A.
Aqui, assim como no resto do mundo, os cuidados dos filhos e da casa recaem quase exclusivamente sobre a mulher. É claro que há pais bastante ativos e envolvidos, mas são minoria.
Q.
E como estão sendo os primeiros meses com ela em casa?
A.
A vida com um recém-nascido é, ao mesmo tempo, muito melhor e muito mais difícil do que eu previa.
Passei as duas primeiras semanas em modo de sobrevivência, improvisando em meio ao furacão. Mas também era puro amor e eu chorava de emoção só de olhar para Clara.
Com o tempo (e a prática e o reequlíbrio hormonal), as coisas foram ficando mais fáceis e a experiência só tem melhorado!
Meu marido e eu somos os responsáveis pelos cuidados com a bebê, mas temos ajuda com a manutenção da casa, com uma faxineira que vem três vezes por semana.
Nesse sentido, a Malásia é muito parecida com o Brasil e é bastante comum que as famílias tenham ajuda com os serviços domésticos, com babás, faxineiras e cozinheiras.
Q.
Tem alguma rede de apoio para mães?
A.
A minha rede de apoio aqui é a comunidade brasileira, que, apesar de modesta (mais ou menos 400 pessoas), é muito ativa e unida. Muitas famílias vieram para cá com filhos pequenos ou tiveram bebê aqui, e essas mães me ensinaram o caminho das pedras.
Quais os melhores médicos e hospitais, o que e onde comprar as coisas do bebê, indicação de consultora de amamentação, como emitir a certidão de nascimento… Fui imensamente ajudada em tudo!
Além disso, no último ano rolou um pequeno baby boom no nosso grupo de amigas e foi muito gostoso ter com quem trocar experiências e dividir as aflições, principalmente em tempos de pandemia e isolamento social.
Q.
Curiosidades… ou qlq outra coisa que você queria contar.
A.
Talvez o mais legal de morar aqui seja poder viver em meio a costumes tão diferentes dos nossos.
A religião oficial é o islã e como a dieta do muçulmano não inclui álcool nem carne de porco, vários restaurantes e supermercados sequer comercializam esses itens, por exemplo. Já imaginou um churrasco brasileiro sem linguiça e sem cerveja? Pois é, aqui acontece.
Outra curiosidade culinária é que é bem comum que as casas tenham duas cozinhas!
Uma é fechada, para os preparos que fazem mais sujeira e bagunça. A outra é mais social, integrada com a sala, para preparos mais leves. No começo estranhei bastante e optei por um apartamento com uma cozinha só, mas hoje já acho essencial e sonho com o dia em que terei duas cozinhas para chamar de minhas!
P.S. Motherhood Around the Globe: Sobre Criar Filhos na Itália, por Mariana Marchioni