Por uma infância com menos brinquedos e mais brincar livre

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Com criança pequena em casa, você já deve ter perdido as contas de quantas vezes chegou na cozinha e as vasilhas de plástico, talheres, panelas estavam todos fora do armário e, em meio ao caos, seu filho brincava tranquilamente com aqueles utensílios; ou daquele aniversário em que ele ganhou um super brinquedo e, na hora de abrir o presente, ficou mais entusiasmado com a caixa da embalagem do que com o brinquedo propriamente dito.

Apesar disso, insistimos em lotar o quarto de nossas crianças de brinquedos: carrinhos, bonecas, robôs...em sua maioria feitos de plástico, ou brinquedos eletrônicos, que no apertar de um botão pulam, brilham ou falam, quase que brincam sozinhos! A cada dia, celulares e tablets se tornam presentes cada vez mais comuns para crianças menores de 10 anos.

Em uma sociedade permeada pelo consumo, somos levados a acreditar que a criança precisa de muitos brinquedos para brincar. A indústria empurra, diariamente, a ideia de que crianças só conseguem brincar se tiverem a mão brinquedos modernos, elaborados e caros, para que assim possam exercer aquilo que é sua principal função na infância: a brincadeira.

E disso, passamos a acreditar que a brincadeira, por sua vez, só pode acontecer acompanhada de brinquedos estruturados, que devem ser comprados, de preferência, no shopping. E dos brinquedos comprados, os escolhidos são aqueles que conseguem deixar a criança quietinha e sem fazer “bagunça” pelo maior tempo possível, nesse quesito as telas (celular, tablet, televisão) são preferência nacional!

Paralelamente a esse cenário, um estudo chamado “The influence of the number of toys in the environment on toddlers’ play” publicado em 2018, fez um experimento com 36 crianças, nas idades de um ano e meio à dois anos e meio. As crianças foram separadas em dois grupos: no primeiro, os pequenos ganharam 16 brinquedos; no segundo, apenas 4. E contrariando todas a expectativa do senso comum, as crianças que tiveram acesso a menos brinquedos se revelaram mais criativas e se mantiveram entretidas e focadas por mais tempo do que aquelas que receberam muitos.

Outra pesquisa, realizada em 2017, pela Silicon Valley Community Foundation também mostrou que, a maioria dos cérebros por trás da tecnologia do Vale do Silício, ironicamente, optam por educar seus filhos longe de uma grande quantidade brinquedos e tecnologia, escolhendo escolas alternativas que promovam maior contato com a natureza e a brincadeira livre.

A verdade é que temos medo da criança que brinca livre, que gosta de explorar os espaços, que gosta de “fuçar” onde não é chamada, que transforma o frasco vazio do shampoo em foguete, que brinca com terra e água para fazer bolinho...afinal essa criança dá trabalho, faz bagunça (será que é só bagunça mesmo?).

Precisamos entender, de uma vez por todas, que o que satisfaz verdadeiramente a criança é brincar com as mãos, o brinquedo que não tem jeito certo de brincar, com mil possibilidades criativas, que não se limitam ao turn on/turn off.

Para brincar não é preciso brinquedo! Vamos jogar as pilhas fora, desligar o wi-fi e ocupar os parques, deixar que as crianças explorem o mundo, dando vazão à curiosidade, através do toque, do cheiro, do sabor…deixem a panela virar chapéu e a colher virar baqueta da vasilha, que agora é bateria.

Por uma infância com menos brinquedos que brincam sozinhos e mais brincadeiras e encontros potentes!

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