Banheiros Neutros e Novos Aprendizados

 banheiro-neutro-1Já faz um tempinho, minha filha me perguntou por que nos ícones de sinalização dos banheiros, a mulher estava sempre usando vestido (sendo que ela quase não usa vestidos!) e o homem, pelado. Achei a pergunta uma mistura de fofura com nonsense, como apenas crianças com um dígito de idade conseguem elaborar, e me dignei somente a responder que o homem vestia uma calça comprida ou um macacão. Para ser sincera, achei a pergunta complexa demais para meu nível de energia naquele momento para qualquer divagação; então, encerrei o assunto ali mesmo. Hoje fui pela primeira vez ao escritório recém-inaugurado da empresa na qual trabalho. O lugar ficou bonito e aconchegante, com muitos elementos sustentáveis, plantas, luz natural, e referências ao Brasil, mesmo seguindo um padrão internacional.   Mas o que mais chama atenção no projeto é o fato de ele conseguir refletir a prioridade dada pela empresa às questões de diversidade e inclusão. Recepções em diferentes níveis de altura, portas amplas e automáticas, estações de trabalho com possibilidade de ajuste para pessoas com deficiência, pisos e carpetes apropriados para mobilidade, sinalização em braile, sala com equipamentos para coleta de leite para mães em fase de amamentação, para citar algumas das mais visíveis. Ao sair do banheiro, surpreendi-me ao encontrar um colega da área de Finanças lavando as mãos ao meu lado, e logo entendi que estávamos em um banheiro neutro.  Demos risada pela novidade da situação, mas ficamos orgulhosos em constatar que a empresa estava walking the talk também na questão de inclusão de gênero. Para ser honesta, eu nunca me havia permitido grandes reflexões sobre um tema de primeiríssima necessidade (literalmente) quanto sanitários, mas aquilo me fez parar para pensar.  Li um artigo interessante explicando que escolher entre duas portas (ou dois símbolos) costuma ser uma decisão corriqueira para a maioria de nós, mas ela não é assim tão simples para todos. Às vezes aquilo pode se tornar um verdadeiro martírio...Gosto quando consigo sair do meu mundo para me colocar no lugar do outro, e gosto principalmente quando consigo expandir a forma como enxergava alguma questão até então.  Nem sempre é assim, claro! Todos temos nossos pontos cegos, e às vezes vamos resistir, minimizar ou mesmo ignorar certas questões (principalmente aquelas com as quais temos pouca familiaridade). Mas acredito que o importante não seja concordar sempre, mas nos mantermos alertas e conscientes em relação aos nossos próprios vieses e abertos para conversar, debater e, principalmente, escutar as pessoas com ouvidos mais empáticos. O símbolo do banheiro neutro era a junção do espelho de Vênus (círculo com a cruz embaixo) e do escudo de Marte (círculo com a flechinha na lateral direita), e me deixou curiosa para entender de onde vieram.   São símbolos que aludem aos deuses da Roma antiga. Na mitologia romana, Vênus era a deusa do amor, associada com harmonia, beleza e empatia, enquanto Marte era o deus da guerra, associado com agressão, força e impulsividade. Não acredito que precisamos eliminar esses ícones do nosso repertório, mesmo sabendo que homens e mulheres carregam em si tanto Vênus, como Marte (da próxima vez que for questionada sobre a origem dos símbolos de toaletes, acho que estarei mais bem preparada!).  Mas ter que fingir ser algo que você não é, apenas para se encaixar em um padrão binário, isso sim pode fazer mal, e não deveria fazer parte do dia-a-dia de ninguém, principalmente no lugar onde se trabalha e frequenta todos os dias. Se pudermos transcender a simbologia, e proporcionar alternativas (por sinal, bastante práticas, óbvias e inofensivas) para que todos se sintam bem e acolhidos, por que não fazê-lo? Estou sempre aberta para alguém me convencer do contrário. 

Previous
Previous

Have a nice Weekend!

Next
Next

Work Day With: Manuela Borges, founder da Shower Plant, uma Marca Nova de Beleza Saudável