Notas Sobre The Crown, Season 4
Eu culpo Elizabeth Holmes, uma jornalista americana que lança o livro HRH: So Many Thoughts on Royal Style amanhã (mas já da pra pre-order na Amazon por esse link) pelo princípio da minha curiosidade pela Royal Family. Foi mais ou menos na época que a Meghan Markle apareceu como noiva do Prince Harry e quando The Crown virou must watch. Eu sou uma apaixonada por história, e construo histórias atuais olhando para trás. Para entender o presente e se preparar para o futuro, uma pessoa precisa conhecer o passado, não consigo assistir um episódio de The Crown sem o google do meu lado e aposto que 90% das pessoas também.Antes do #SMT (a hashtag So Many Thoughts) que Elizabeth usa para deliberar seus pensamentos sobre as escolhas sartoriais da família real, eu nunca parei para pensar muito no papel da monarquia britânica. Eles eram apenas celebridades, que por acaso nasceram no spotlight, nada de muito revolucionário e bem antiquado.Assisti ontem o primeiro capítulo da 4ª temporada de The Crown e descobri alguns fatos da vida da Princess Diana que me deixaram bem desconfortável. Na entrevista que ela e o Principe Charles deram no dia que ficaram noivos, ele responde à pergunta do reporter “Are you in love?” de forma grosseira: “Yes, whatever love means”. Me pareceu um pedido de socorro para alguém tirar ele daquele teatro para que fosse livre para amar Camilla Parkwer-Bowles, mas às custas dos sentimentos da Diana, fossem eles de amor ou não, você consegue imaginar seu noivo falando isso sobre os sentimentos dele por você? How heartfull.O que me bateu foi pensar que as mulheres que The Crown mostra como mais sensíveis, e imagino que seja verdadeira essa percepção, lidaram com seus sentimentos de forma sufocante e solitária. Princess Margareth, irmã da rainha, sempre enfretou sua saúde mental com rebeldia (I don’t blame her), Lady Di lutou contra bulimia e depressão por anos e para o contraste, aparece a Margareth Tatcher como a Primeira Ministra Mulher da Inglaterra, conhecida como a “Dama de Ferro” e a Rainha Elizabeth, que nunca foi propriamente pintada como amorosa, não na época.Mas eu fiquei impressionada mesmo foi com a postura conservadora da Margareth Tatcher, uma mulher que claramente não levantou a bandeira do feminismo. Não que ela tivesse qualquer obrigação, mas as aparentes regras atuais da polarização (que eu não tenho ideia de quem foi o criador, talvez o Twitter?) esperam que você seja inteiramente uma coisa ou outra. Mostrar a Margareth como a mulher mais poderosa da Inglaterra depois da Rainha e ainda assim uma esposa dedicada, que pasmem, arruma a mala do marido, é perturbador de início mas dá um certo alívio depois do choque inicial, pelo simples fato de que isso deixa claro que a vida acontece nas nuances, que mudar é sempre possível, que tradicionalismo e expectativas falam muito alto e que as pessoas raramente são uma coisa só. Apesar de eu acreditar que a luta do feminismo é a luta pelos direitos iguais, muitas pessoas ainda acham que é uma luta deliberada para quem toma o lugar do outro. E que gestos de gentilezas se tornam quase proibitivos, para quem faz e para quem recebe, porque se você é feminista não pode se sujeitar a certas coisas e vice-versa.Eu tenho uma dificuldade enorme em tomar decisão, é um dos skills que eu preciso dar eterna atenção, sofro por ter que abrir mão de uma coisa pela outra, mas isso porque fico presa focando no que eu estou perdendo ao invés de enxergar um caminho híbrido. Poucas coisas na vida são definitivas, os caminhos se ajeitam se você estiver preparada para abraçar seja lá o que for que a vida te apresente. Essa é uma verdade que entendo no plano da razão, mas acredito que se fosse eu a interpretar um papel na família real de The Crown, corro o risco de ter meus sentimentos igualmente sufocados. Fui dormir pensando na inocência e na solidão da Lady Di.