Notas sobre amizade e a beleza da vida
Essa é a curiosa história de uma amizade entre uma curitibana e uma americana. Dizem que os curitibanos são fechados, seres incapazes de dar bom dia no elevador. Dizem que os americanos são frios, desapegados e não cultivam suas raízes. Acho tão interessante quando essas generalizações bobas caem por terra e nos damos conta de que somos todos humanos, demasiadamente humanos.
Eu conheci a Pamela da forma mais inesperada. Era um fim de tarde qualquer e eu estava comprando pão na padaria quando me deparo com uma americana se desdobrando em vinte para se fazer entender pelo atendente. Ela queria saber quais tipos de queijo ele vendia, quanto custava, se era possível fatiar… enfim, o básico para poder fazer a compra. O único problema é que ela não falava português (ou falava muito pouco) e o atendente não falava inglês.
Apesar da cena um pouco bizarra, vi que aquela mulher precisava de ajuda e me dispus a traduzir para o atendente aquilo que ela estava querendo. Me lembro até hoje da cara de felicidade dela ao ver que iria voltar para casa com aquilo que ela realmente queria. Ela me agradeceu milhares de vezes, disse que tinha acabado de se mudar para Curitiba com o marido e os filhos e que estava com bastante dificuldade de se virar com questões simples como: qual era o melhor supermercado, indicação de bons restaurantes, um cabelereiro confiável, pediatra para as crianças… Coisas de conhecimento geral daqueles que são locais da cidade, mas que para um estrangeiro pode ser quase uma missão impossível descobrir. A gente conversou um pouco e eu deixei o meu contato caso ela precisasse de ajuda com mais alguma coisa.
Pode parecer uma atitude simples e até boba, mas quantas vezes cruzamos alguém com dificuldades e fingimos não ver por estarmos muito ocupados, atrasados ou simplesmente por ser mais fácil ignorar? Essas dificuldades podem ser pequenas aos nossos olhos, mas gigantes para quem está sofrendo. Eu já tinha passado por situações bem similares a da Pamela quando morei no exterior, portanto eu sabia o valor que aqueles 5 minutos de conversa teriam para ela. É empatia que fala, né?
“To make the long story short”, ela entrou em contato comigo uns dias depois, marcamos um café e do café para nascer uma grande amizade foi um pulo. Descobrimos mil afinidades, compartilhamos dilemas da maternidade, do casamento, do empreendedorismo e da vida. A amizade dela me trazia boas memórias dos anos que eu morei fora e que foram tão especiais. Nossas famílias acabaram ficando amigas e foi uma experiência muito legal para os meninos se relacionar com crianças de outra nacionalidade. Depois de alguns anos ela acabou voltando para Atlanta, mas a amizade continuou.
No nascimento da Maria Emilia, a Pam teve uma atitude que me comoveu. Além de enviar um presente lindo para a minha filha, ela mandou junto um livro de presente para mim. (Ironicamente são poucas as pessoas que lembram das mães que acabaram de parir). Um livro (será que ela me conhecia bem?) com o seguinte título: “Great Quotes from Great Women: Words from the Women Who Shaped the World”. Era a minha amiga me mandando um recado carinhoso sobre o valor e a força do feminino. Era o universo sinalizando que o segredo está na importância das relações humanas e que são elas que dão beleza à vida. Era o cosmos provando que a amizade entre duas mulheres é capaz de eliminar distâncias, superar diferenças culturais e quebrar estereótipos. Era a vida apontando a mais importante das lições que eu deveria ensinar para a minha filha que acabara de nascer. Thank you my dear friend Pam.
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