A linha tênue entre o “meu eu sensato” e o “ meu eu freak competitivo e controlador”
Mês que vem, um projeto bem importante pra mim completa um ano: o @projetosofia, um perfil no Insta em que posto sobre como tento inserir mais literatura em minha rotina, já que, quando o criei, estava superafastada dos livros.
No começo da empreitada, fiquei tão animada que achei que ia voltar imediatamente a ser a devoradora de livros que fui na adolescência e na época da faculdade (sério, eu era o tipo de adolescente que os pais viviam brigando para que eu tirasse o nariz dos livros e fosse interagir com pessoas reais). Me imaginei com um lápis na mão, riscando os títulos dos livros de uma lista feita em meu planner com uma rapidez surpreendente. Dois, não... Três livros por mês, quem sabe até um por semana! Nada ia me segurar!
Fuém...
Eu posso até dizer que muita coisa me segurou para que essas metas acima não fossem alcançadas. Planejei minha festa de casamento, lua de mel, mudei de área na empresa, virei uma Lolla Girl (<3), fiquei grávida, encarei uma reforma e me mudei de apartamento... Mas isso não seria honesto. Por mais que eu fale que não tinha tanto tempo livre assim, eu tinha. Em vez de ficar na televisão assistindo Gilmore Girls ou Friends pela milésima vez antes de dormir, eu poderia ter lido algumas páginas e adiantado toda aquela lista imaginária.
Não que tudo esteja perdido. Foram 11 livros em 11 meses. Uma média de um livro por mês não é tão ruim assim… Exceto se você for uma pessoa que se cobra muito, que é o meu caso. Explico: com o Sofia, comecei a seguir vários outros perfis que se propõem a dar dicas de leituras e descobri um universo vasto. Só que estes outros perfis acabaram se tornando fontes de comparação para mim. Enquanto eu via os donos daquelas contas lendo um livro por semana, comecei a ficar frustrada e até sufocada pelas tais metas.
Até que, na semana passada, olhando um Insta de uma pessoa que estava lendo seu terceiro livro de abril, considerei desistir de tudo (eu sei, um drama). Primeiro, porque não abri um livro sequer neste mês. Segundo, porque eu tive bastante tempo pra abrir um livro. Assisti a quatro temporadas de uma série qualquer pelo iPad em duas semanas. Obviamente conseguiria ler um livro nesse tempo. E aí me perguntei: “Pra que ler tanto? O que isso vai mudar na minha vida?”.
E foi quando eu pensei nos livros que eu li nesses 11 meses. Não nos números, mas no livros. Por causa deles, conheci melhor a história de mulheres incríveis: Michelle Obama, Chimamanda Ngozi Adichie, Celeste Ng, Angie Thomas, Shirley Jackson, Madeleine L’Engle e Nicola Yoon. Me senti realmente inspirada por personagens femininas fortes como Ifemelu, de “Americanah”, Starr, de “O Ódio Que Você Semeia”, e é claro, pela musa maior Michelle Obama. Tive momentos de reflexão com “Pequenos Incêndios Por Toda Parte” ou “Tudo O Que Eu Nunca Contei”, de Celeste Ng, que falam sobre dramas familiares e relações cotidianas que construímos com nossos pais, filhos, irmãos e outras pessoas ao nosso redor. Viajei para o passado, para a Rússia de “Anna Karenina”, e para o futuro de “O Ceifador”, um livro total geek que conta sobre como a Inteligência Artificial domina o mundo daqui alguns séculos. Maravilhoso.
Eu amo maratonas, amo Netflix + Pizza, amo passar mais tempo do que o aceitável no celular olhandos os stories da vida dos outros, amo fazer todas essas coisas que supostamente me afastam dos livros. E eu também amo ler. Por isso mesmo tenho que ficar me lembrando que essas não são coisas que devem necessariamente conviver em caminhos separados.
Quanto aos números e metas: sim, existe uma linha tênue entre o “meu eu sensato” e o “meu eu freak competitivo que entra numa vibe de autocobrança completamente desnecessária”. Mas em que parte da vida isso não existe? Principalmente com tantas fontes de comparação espalhadas por aí. Se eu quero comer melhor, sempre vai ter alguém que aparenta estar tirando 10 atrás de 10 nos testes invisíveis de alimentação saudável. Se eu quero ter uma gravidez tranquila, acredite, vai ter alguém cuja gravidez é tão plena que a impressão é que eu estou fazendo tudo errado. E por aí vai.
Por enquanto, o Sofia vive, e vive lindamente, já que ele me trouxe tanta coisa boa nesse um ano de existência. Só preciso respirar fundo, olhar para dentro com mais frequência e pensar no real motivos das coisas que me proponho a fazer.