Para as Garotas Empreendedoras: Abrir um Negócio é Quase a Mesma Coisa que ter um Filho?
Existe uma certa analogia entre ter um negócio e ter um filho... Tem gente que faz sem pensar e gente que planeja tanto que acaba desistindo. Entre um extremo e o outro está a grande maioria dos empreendedores. O fato é que dá um certo frio na barriga de saber que uma grande mudança está por vir, que vai tomar uma boa parte de seu tempo.
Quando finalmente nasce, você se sente inteiramente responsável por sua evolução, pelos seus resultados. Mas logo a vida te mostra que ele tem vida própria e, assim como a educação dos filhos, você pode fazer muito esforço para tudo dar certo, mas nunca terá controle total sobre o ambiente e sobre a velocidade de reação do seu negócio.
Eu acabei entrando neste barco para pagar a língua, sabe? Passei a infância e adolescência vendo meus pais empreendedores trabalhando dia e noite. A fronteira entre trabalho e casa não era nem um pouco clara. Minha curiosidade me levou a querer entender (e às vezes participar) do trabalho deles desde cedo. Mas eu vivia dizendo que quando crescesse queria ser funcionária, de preferência em uma fábrica de parafusos (ingenuidade imaginar que produtos aparentemente padronizados trazem menos desafios nos negócios).
No final, acabei tendo um negócio de moda com meu pai (acho que não existe um mercado mais distante do de parafusos). Criei este filho incestuoso por dez anos. Eu dirigia o negócio, ele era o sócio majoritário.
Para complicar, eu era uma mãe muito verde, tinha apenas 23 anos e adotei um filho problemático, pois o negócio já existia e estava em crise. Eu tinha apenas alguns anos de experiência em consultoria para grandes empresas, ou seja, nunca tinha lidado com problemas reais de um negócio pequeno.
Quando comecei, estabeleci um prazo de dois anos para ver se teria chance de dar certo ou se eu voltaria para o mercado de trabalho tradicional. Passado o prazo, eu ainda não tinha dado a virada mas tinha esperanças... Fui postergando e, mesmo depois de ter vivenciado um período de muito sucesso, passei por muitas crises.
Na época da virada, tudo se parecia muito com um negócio novo. Como um filho, no começo, ele depende inteiramente de você. Mas ele começa a crescer e muito mais gente faz parte da vida dele. No caso dos negócios, multiplicam-se clientes, funcionários, parceiros, fornecedores. Você é o grande tomador de decisões por muito tempo, mas é impossível fazer tudo. Aliás, se você tentar fazer isso, vai acabar limitando o crescimento do negócio. Neste processo, aprendi que o processo de empreender tem um início claro, mas não é nada fácil definir um fim. Às vezes ficamos cansados da luta infinita... Na maior parte dos negócios, boa parte do tempo tem mais desafio e coisa dando errado do que dando certo. Até quando você tem sucesso já está preocupado com as consequências, pois tem que estruturar para crescer. E é natural se questionar se vale a pena. Mas resolver fechar um negócio tem um lado de ver o fim da vida de um filho, desmontar uma estrutura que já funcionava por si só.
E, por mais que ninguém nasce pensando na morte, a maior parte dos empreendedores bem-sucedidos já passou por alguns fracassos empresariais, às vezes algumas falências. Em muitos países, alguém que já empreendeu e falhou é valorizado no mercado.
A minha primeira história como empreendedora durou dez anos e foi uma jornada épica para mim. Aprendi muito sobre negócios e também sobre mim mesma. Estou no meu segundo ciclo há uns dois anos e meio, dessa vez de um bebê só meu, sobre o qual tenho muito mais controle e me sinto muito mais tranquila e segura. Já não penso que o mundo corporativo é um plano B pois vejo um novo mundo hoje!
Ao que tudo indica, os negócios estão se tornando mais fluidos e os modelos de trabalho mais flexíveis, o que tende a favorecer o empreendedorismo... E, com esta segunda jornada, estou percebendo que é possível empreender em diferentes níveis de complexidade, e evoluir com consciência para outros estágios.
Você tem alguma coisa pra dividir sobre começar um negócio? Vamos debater nos comentários.