MADE IN CHINA, AND PROUD OF IT: Uma Introdução ao Fashion World Chinês

THE LOLLA CONNECTION

 

Falar sobre qualquer assunto relacionado à China, não é algo simples. Além de ser um país plural – são 56 grupos étnicos diferentes, cheio de contradições –, e de ter uma história complexa, a sensação é de que aqui o tempo não corre na mesma velocidade do resto do mundo. Enquanto todos discutem assuntos relacionados ao que acreditam saber da China, o país já passou e passa por uma grande evolução em todos os sentidos todos os dias e qualquer (pré)conceito já se torna rapidamente ultrapassado.

Apesar de ter morado no Japão, inclusive ser descendente, vejo que há mais diferenças do que similaridades entre as duas culturas – aliás, tendo viajado e trabalhado em muitos lugares neste canto do planeta, percebo que cada país da Ásia evoluiu de forma completamente diferente. E hoje, saber lidar com essas diferenças culturais, na forma de agir, de falar e respeitar suas características, é a parte mais apaixonante do meu trabalho.

Meu contato com a China começou há quinze anos, trabalhando em um grande varejista de moda Brasileiro, desenvolvendo produto.  Logo as viagens ao país começaram em 2011, e não pararam nunca mais, passando por outras marcas, mas sempre na área de desenvolvimento internacional. Até que em 2017 vim de “mala e cuia” a trabalho e cada vez mais fui me aprofundando nesta cultura milenar! Em toda a trajetória, realmente pude acompanhar que grandes transformações acontecerem, não apenas físicas mas também sociais: cidades inteiras foram construídas, houve mudança no estilo de vida e como a sociedade foi organizada, os paradigmas entre gerações, entre tantas outras.

 Uma das transformações que vi acontecer, cheia de simbolismo, foi como o nacionalismo chinês se tornou uma das maiores influências no consumo entre a nova geração, principalmente na moda. O nacionalismo chinês sempre foi um importante aspecto na identidade cultural da China, mas com a abertura do país e a entrada de marcas internacionais, era comum a visão local  de “o que vem de fora é melhor do que o que fazemos”. E para os países ocidentais, o conceito Made in China acabou carregado de estereótipos, sendo desgastado por muito tempo pela demanda produtiva internacional. Com o fortalecimento da economia e a visibilidade que o país adquiriu nas Olimpíadas de Beijing em 2008, a nova geração, começa despertar sua autoestima, num verdadeiro empoderamento de seu potencial criativo, ao apresentar uma nova era de designers e marcas locais. Uma das marcas pioneiras neste conceito, foi a esportiva Li-ning, que debutou internacionalmente nas semanas de moda de Paris e New York em 2018. Fundada em 1990, a marca leva o nome de seu criador – famoso ginasta chinês medalhista olímpico. As coleções originais, trazem caracteres chineses bordados, estampas e cores contrastantes – destaque para a coleção de footwear sempre incrível. Na etiqueta ou em pontos visíveis dos produtos a frase Designed in Beijing mostra bem o orgulho. A partir deste feito, surge então a expressão Guochao (国潮), cuja tradução pode ser algo como onda nacional, e tem sido o termo da vez usado para definir a tendência. Muito mais do que estampar motivos orientais como crisântemos e garças, o nacionalismo vem de fontes mais profundas, traduzindo “tradição” em uma estética própria e fresca.   Marcas mais antigas também estão voltando com tudo, reposicionadas, como as duas primeiras fabricantes de tênis do país: Feyue e Warriors – meu preferido! Verdadeiros clássicos dos anos 30, ambas trazem desenhos atuais, mas mantém variações do modelo original da época, e estão na maioria dos pés mais cools por aqui.  Outra marca, a Fabric Porn desenhada por Zhao Chenzi, combina tradição e irreverência, evidenciando a estética e símbolos das pessoas simples do dia a dia da vida contemporânea chinesa. O resultado é moderno e icônico!Ainda poderia citar outras marcas como Songta, Meihua, 8on8, Staffonly e designers como Vivienne Tam, Feng Chen Wang... Mas ok, vamos com calma em nosso primeiro encontro!  Ainda que no mercado de luxo as marcas ocidentais sejam as preferidas, muitas já desenvolvem coleções especiais, utilizam casting local e mudam o visual merchandising das lojas para acompanhar o Guochao. A Gucci Tian Collection, com estampas e inspirações chinesas é um bom exemplo, e também o jogo tradicional, Mahjong, criado pela Tiffany. A China como sendo um dos principais mercados do mundo, e cada vez mais orgulhosa de sua cultura tão rica, deverá continuar forte com a tendência do Guochao, não só localmente. O trabalho têxtil com o manuseio da seda, algodão, bordados, estamparia, entre outras técnicas milenares, faz parte de sua herança cultural e vocação. Ter orgulho desta história e seus elementos, e mostrá-los ao mundo, é acima de tudo honrar sua ancestralidade. 

GALERIA DE FOTOS: Guochao

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SOBRE A EMI YONESHIGE

Emi Yoneshige trabalha no varejo de moda há mais de 15 anos, e já morou no Japão e México antes de se mudar para Shanghai, na China, onde é responsável pelo escritório de Outsourcingda Ásia de um importante grupo de moda brasileiro. Também ministra duas disciplinas na filial chinesa do Instituto Marangoni.
Emi é publicitária por formação e curiosa por vocação, o que a permite garimpar histórias e beleza onde quer que vá. Tem um flerte lindo com a antropologia e se preocupa em mostrar o mundo através do olhar do outro, levando em conta seu contexto e cultura local, e muitas vezes, quebrando paradigmas.
 
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