Interview com Poliana Almeida, Founder do CURADORIA VINTAGE, um Brechó Chic em Curitiba
Happy to welcome Poli back to Lolla! A Poli escreveu para um Lolla na época em que ainda morava no interior do Rio de Janeiro. Veio a pandemia e muita coisa mudou, levando ela e a família de volta para Curitiba. Como boa resiliente que é, Poli abriu novos caminhos e finalmente, um novo brechó na cidade (sempre foi sonho dela voltar com esse projeto que foi interrompido na mudança para Macaé), o Curadoria Vintage. Poli é daquelas meninas antenadas, sensíveis e curiosas e passou a vida adulta sendo dona de apenas um único cinto, nunca esqueci disso. Eu definiria seu estilo como minimalista com bossa, nada é por acaso. Enjoy!
Q. Recentemente você montou um brechó em Curitiba, o Curadoria Vintage. Como você evoluiu da ideia de trabalhar com second hand para de fato abrir o seu brechó?
A. Eu já tive outro brechó físico, mas o fechei porque meu marido foi transferido para o Rio de Janeiro. Durante a pandemia resolvemos voltar para Curitiba e aí idealizei o Curadoria Vintage como uma loja física e diferenciada. Ah...queria toda rosa e dourada.
Q. Second hand shopping sempre fez parte da sua vida. Conta um pouco pra gente como foi a sua relação com a moda circular desde pequena?
A. A primeira vez em que entrei num brechó foi aos seis anos de idade – hoje tenho trinta e cinco –, quando meu pai abriu o dele. Naquela época, o preconceito era enorme, mas ainda assim tinha um público fiel. Eu via aquele local como um lugar muito rico! Lembro ainda hoje da primeira vez que entrei. Me divertia olhando as peças, lendo as etiquetas, olhando os avessos das roupas, para ver as costuras. Lia as etiquetas e observava que elas se repetiam em algumas peças. Assim que comecei a compreender o que eram marcas. Para uma criança daquela época, foi uma grande descoberta.
Q. A sua curadoria é super especial e, ainda assim, comercial. São coisas que realmente dá vontade de comprar para incorporar no dia a dia. O que te chama atenção quando está garimpando peças para o CuradoriaVintage?
A. Procuro ser bem criteriosa e o que penso é que a peça tem que fazer sentido no guarda roupa. A compra tem que realmente valer a pena para a cliente. Quero vê-la comprar a peça e ficar feliz com o achado.
Q. Marcas ainda tem um peso muito importante no mercado second hand? Acha que isso um dia vai mudar?
A. Essa questão da marca é complicada. Lógico que tem peso sim. Têm pessoas que querem determinado item apenas por ser de uma marca específica. Eu, particularmente, acho que têm coisas muito mais relevantes do que apenas a marca. Acho que, às vezes, pode ser de marca e ainda assim não fazer sentido. Isso acontece muito e, então, não pego a peça. Prefiro olhar para o estilo e para a usabilidade real.
Q. Qual o seu maior achado do Curadoria Vintage?
A. Logo que retornei a Curitiba consegui umas peças vintages que vieram da Alemanha. Um vestido vermelho de mangas bufantes e com bordados superdelicados de ovelhas. Veio também uma camisa branca incrível bem no estilo que voltou a moda. Essas peças não tinham marcas, mas eram ricas nos detalhes, nos tecidos e nos botões! Além disso, teve um casaqueto de lã, feito em Paris sob medida, que tinha até o nome da pessoa que o encomendou. Peças assim não são fáceis de achar. Ah, e um achado que foi parar no meu armário foi um vestido da Cris Barros, todo estampado com cerejas.
Q. Na hora de comprar, você busca primeiro em second hands antes de passar o cartão?
A. Pode parecer mentira, mas compro pouco para o meu armário. Mas sim, procuro primeiro second hand. Até porque faço compras bem específicas. Saio procurando o que quero e fico de olho até achar. Por exemplo, coloquei na cabeça que queria um casaco teddy bear bege para esse inverno e o achei um no site enjoei. Sempre estou de olho em outros brechós também. Se não encontro no brechó, confesso que acabo comprando na Zara.
Q. A economia circular se beneficia das tendências ou é sempre uma moda mais atemporal?
A. Achei super interessante essa pergunta, porque poucas pessoas imaginam que as tendências influenciam também os brechós. Ninguém quer comprar peças com cara de roupas passadas, sabe? Nem tudo acaba sendo atemporal. Por exemplo, as calças de cós baixo, dos anos 2000 da Diesel, que foram febre, hoje em dia ninguém quer. Nem saltos altos se vende mais. O vintage tem que ser muito bem escolhido. Tem que ter aquele ar de roupa cool, senão eu escuto: “Ah não! Tem cara de antigo.”.
Q. Você ainda sente resistência do brasileiro na hora de comprar peças usadas?
A. Sim. Com certeza melhorou muito, mas ainda escuto coisas como: “por esse preço eu compro uma peça nova”; ou pessoas que têm a preocupação de saber de onde veio a peça. Sinto que também há um leve preconceito das pessoas que desapegam, que se assustam ao perceber que se trata de uma loja conceitual e com peças selecionadas. Muitos pensam que o brechó irá aceitar qualquer tipo de peça e não é assim! Algumas pessoas ainda têm uma visão distorcida dos brechós, mas quem ama os ama, é de coração (risos). Em Curitiba tem um bom mercado para isso. Inclusive, foi a família da minha mãe que começou com brechós por aqui, no início da década de 90.
Q. Como você imagina o mercado second hand daqui 10 anos?
A. Acho que vai crescer bastante e fico muito feliz com isso. A pandemia despertou o desejo nas pessoas, tanto de abrirem brechós, quanto de comprar. Digamos que virou moda. Eu vejo que o mercado dos brechós mudou muito. São novos tempos. Temos que inovar e ter um propósito atrelado. Aquela ideia de simplesmente ter um espaço abarrotado de roupas não atrai esse novo público que vem vindo. Eles querem um ambiente bonito e com significado.
Q. Qual a sua dica para quem está começando a se aventurar pelas compras second hand?
A. Procurar por peças de peso, que seriam aquelas muito caras para comprar novas ou peças diferenciadas, que podem não ser de marca, mas que deixam o look cool. Acho que às vezes é até natural ter uma marca de uso. Lógico que neste caso a pessoa teria que analisar várias coisas, tais como o valor, o desgaste da peça, a marca. Vale lembrar que aquela peça já tem uma história. O que eu mais acredito é que deve-se comprar algo que faça sentido para si e para a vida que a pessoa leva.