Uma história linda e sensível, sobre o amadurecimento dos filhos

Após um intenso dia de viagem, desses em que as panturrilhas queimam de tanto andar, mas a cabeça vaga livre, leve, e sorridente em seus horizontes expandidos, resolvemos encerrá-lo em um restaurante japonês, comida preferida de quatro entre os quatro membros da nossa família. Nem bem abrimos o cardápio, meu filho iniciou um papo um tanto inesperado, talvez inspirado em uma das muitas experiências vivenciadas durante o dia.  Queria saber sobre uma de suas avós paternas, pois ele tem duas: uma de coração - presente e amada - e a outra de sangue, que ele infelizmente não teve o privilégio de conhecer.

Mas, diferente das outras vezes em que trouxe o assunto, não quis saber da história, mas sim das estórias. Queria saber dela. Perguntou como ela era, se era carinhosa. O que gostava de fazer? O que aprontavam juntos? Ouviu com os olhinhos brilhantes e atentos, e nem a chegada das coloridas iguarias nipônicas o conteve.  Perguntou ao pai - de uma maneira tão sensível que jamais conseguiria descrever - se aquele assunto o deixaria triste - e ao saber que muitíssimo pelo contrário - deu a volta na mesa e se encaixou em seu colo, talvez para escutar mais de perto ou talvez para fundir-se com ele. Quis saber quando foi que ela partiu, quantos anos ele tinha, como havia sido: havia sido aquele o dia mais triste de toda a sua vida?

Demorou para que o garçom voltasse para retirar os pratos, mas ele não queria saber de sobremesa, queria saber agora sobre saudade. Como era a saudade?  Ainda doía? Que gosto ela tinha? Foi então que finalmente respirou e deixou-se transbordar. Falou de seu amor, de seu afeto. Falou de sua tristeza em saber que o pai havia vivido aquela dor. Deu nele o abraço mais apertado que até hoje pude testemunhar alguém dar. Como se seu pequeno corpinho de dez anos pudesse preencher um vazio. Como se soubesse o quanto aquele doce enlace era reparador. A irmã caçula logo se uniu ao gesto, emocionada, como quem se arrepia ao ouvir uma música, mesmo não entendendo perfeitamente sua letra. Ao nos trazer finalmente a conta, o contido jovem britânico se assustou ao ver a mesa debulhada em lágrimas.  Estávamos os quatro muito comovidos, mas acredito que cada um com seus motivos diferentes.

Minhas lágrimas vinham de lugares variados, mas acho que era principalmente de orgulho. Um orgulho profundo em testemunhar o amadurecimento dos meus filhos, em vê-los tornando-se lindamente quem são. Ou talvez meu choro fosse de encantamento. Em alguns anos, não lembraria do nome daquele restaurante. Não lembraria da apresentação ou do gosto fabuloso daquela comida. Mas por toda a minha vida jamais esqueceria do dia em que o amor se fez tão palpável, que eu quase consegui segurá-lo nas minhas mãos.

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