Como um RETIRO DIGITAL de meditação transformou minha saúde mental durante a quarentena
Na metade de março de 2020, como grande parte da população mundial, comecei a sofrer de terríveis noites de insônia. O medo da Covid, a piora constante nos índices de contaminação e mortes, as incertezas sobre o futuro e sobre a duração da crise sanitária global me levaram a encarar longas noites em claro, com a cabeça e o coração à mil. Foi então que, lá pelo início de maio, resolvi aceitar aquela situação - até então estava “brigando” com a insônia, com a ajuda de remédios para dormir que, passados alguns dias, paravam de surtir efeito, e me deixavam feito “zumbi” no dia seguinte. Assim, decidi fazer algo para tornar minhas noites em claro mais úteis, e se possível, menos angustiantes. Me lembrei do meu curso de meditação - sobre o qual falei bastante nesse post - e de como as meditações guiadas que fazíamos durante as aulas me ajudaram no controle da ansiedade, que era a causa principal da minha insônia (sempre dormi super bem, então sabia que não era nenhum problema físico ou hormonal). Como já tinha "gabaritado” o Headspace, comecei a buscar algo novo para ouvir na cama enquanto esperava o sono vir - às vezes, ele simplesmente não vinha! Foi então que me deparei com uma série de encontros virtuais que estavam sendo promovidos pelo professor Jon Kabat-Zinn, doutor em biologia molecular pelo MIT e fundador do Center for Mindfulness in Medicine, Healthcare and Society dentro da faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts. Responsável por levar o mindfulness - despido de qualquer viés religioso - para as universidades americanas, transformando-o no programa MBSR (Mindfulness Based Stress Reduction), Jon provocou uma verdadeira revolução na maneira como a meditação é vista pela comunidade médica ocidental. Seus ensinamentos foram pouco a pouco atingindo o grande público e levando à realização de inúmeros estudos científicos que comprovam a eficácia da prática para o controle do stress, os casos de dor crônica, o tratamento de transtornos de ansiedade e pós-traumáticos, e muitos outros. Durante o lockdown, Jon estava realizando o que ele chamava de “Retiro de Mitigação”, uma série de encontros virtuais em que ele refletia sobre o momento atual; conduzia uma meditação guiada e depois respondia perguntas dos participantes, que vinham de todos os partes do mundo com as mesmas aflições. A voz suave e calma de Jon, e sua fala pausada, tornava as aulas muito fáceis de entender, e comecei a acompanhar as gravações pelo Spotify (não consegui participar de nenhuma transmissão ao vivo devido ao fuso-horário). E o que posso afirmar com toda a certeza, olhando em retrospecto, é que aquelas noites em claro ouvindo os ensinamentos transformaram a minha saúde mental, e minha relação com o momento presente.
“Mindfulness is the LOVE AFFAIR with the unfolding of our present moment”
Depois de já ter ouvido inúmeras vezes cada uma das 42 aulas do retiro digital, resolvi compartilhar com as leitoras do Lolla algumas das mais valiosas lições que aprendi com Jon:
- Se você tem uma ideia pré-concebida do que “deveria ser” meditar, ou de algum “estado mágico" que você deveria atingir, esqueça dela. “Você não precisa buscar algo de especial durante a meditação: reconheça esse “algo” já está em você, que você já é o todo. Se você está respirando, você já está no caminho certo” dizia Jon.
- O foco na respiração funciona como um “colete salva vidas” que te resgata do maremoto de pensamentos. E sim, os pensamentos virão. Milhares deles. “Assim como o coração foi feito para bater, o cérebro foi feito para pensar” dizia Jon. Então toda vez que sua mente se distrair e for levada por pensamentos, resgate-a com seu colete salva-vidas, ou seja, a sua atenção à respiração. Note-a entrando e saindo do seu corpo, veja se tem algum lugar que você a sente mais intensamente, como na entrada das narinas, na garganta ou até na barriga. “And just keep going back to that” dizia Jon.
- Se perdeu em pensamentos? Bateu uma ansiedade do nada? Sem problemas: apenas volte à respiração.
- “O que estou pedindo para você fazer é simplesmente uma das coisas mais difíceis do mundo” dizia Jon durante a meditação. Nossa mente é realmente insana, como um macaco pulando de galho em galho sem parar. Aceite isso, pare de se cobrar e de achar que “todo mundo sabe como meditar menos eu”. Isso é APENAS MAIS UM PENSAMENTO!
- Para Jon, esse momento de meditação funciona como um “refúgio de tudo que está acontecendo lá fora”. Porque sim, mesmo o “pai da meditação ocidental” confessou durante as aulas que também tinha medo, também sentia agonia com tudo o que estava acontecendo. Afinal ele é humano, assim como todos nós. E a meditação oferecia para ele um porto seguro para respirar, focar no presente, reduzir a turbulência mental. Mas ele aceita que ela existe, e sempre existirá.
- É importante aprendermos a nos familiarizar com o SILÊNCIO e com a CONSCIÊNCIA PLENA, aonde estivermos. Essa total atenção ao único momento que nós temos (que é o agora) é o sentido do mindfulness. E ela passa por aceitar o que é, como é, reconhecer aquilo que está acontecendo no momento presente, e que muitas vezes não podemos mudar.
“Just this moment. Just this breath. Just being here. Just being human”
Depois dessas valiosas lições, posso dizer que me sinto mais centrada, e que a ansiedade parou de dominar a minha vida, mesmo durante a pandemia. Ah e a insônia, depois de algumas semanas de “retiro digital”, nunca mais deu as caras! Voltei a dormir feito uma adolescente, e a minha única dificuldade atual está sendo de conseguir levantar depois de 8 horas de sono e resistir a vontade de dormir mais um pouquinho!