Como praticar yoga muda a vida e você não precisa ir a Índia para descobrir isso.

Inspira .. (1,2,3,4)

Respira .. (1,2,3,4)

 

Faça isso 4 vezes.

Pronto… agora podemos começar.

 

Existem 4 leis da espiritualidade indianas que dizem: “A pessoa que vem é a pessoa certa”, “Aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido”. “Toda vez que algo se inicia é o momento certo” e a quarta e última lei afirma: “Quando algo termina, termina”. Eu confesso que só conheci essas leis depois, antes de ir à Índia eu não fazia ideia de sua existência. Minha relação com  a yoga começou assim: eu sozinha pelas ruas de Jaipur a procura de um tuk tuk que aceitasse levar uma mulher (sozinha) a um endereço longíquo. Entender que uma mulher - por estar sozinha, sinônimo de independência e liberdade - já é tolhida justamente por estar sozinha, pois mulheres não devem andar sozinhas, ainda mais estrangeiras. Cobri a cabeça, recordo-me que estava com um look perfeitamente pensado pra ocasião pois já haviam me falado para cobrir a cabeça no caso de sair sozinha. Era um lenço caramelo, não me esqueço e sempre marcava os olhos para me parecer mais como uma local.

Nunca, em nenhum dia, nem no meu primeiro eu me imaginei nessa cena, era quase como estar em um filme de época: a mocinha com o lenço na cabeça a procura de alguém que a levasse a caminho da liberdade... que no meu caso era encontrar a calmaria. O primeiro motivo que me levou a yoga foi a tal da ansiedade, o novo mal do século que acomete muitas pessoas e que eu nunca imaginei que fosse acalmá-la nessa viagem...

Quando comprei minha passagem (20 dias antes do embarque) me acusaram que querer brincar de “comer rezar amar” na faixa dos 20. Não obstante, a viagem foi apenas uma semana depois da defesa do meu trabalho final na graduação. Eu não fazia idéia do que estava fazendo até chegar lá. A jornada foi longa: 36h de vôos com escala na Etiópia e em Nova Delhi. E os aprendizados? inúmeros! Em 36 horas eu dormi e amadureci como nunca. Só de estar a caminho de uma experiência não pensada/planeja, apenas admirada já me fazia perder o eixo.

O motivo da viagem? A realização tardia de um sonho, explico: aos 13 anos de idade ganhei uma revista de minha avó sobre castelos ao redor do mundo e lá estava ele na capa da revista: o Taj Mahal ao lado do Neuschwanstein Castle que eu conheci aos 14 anos, estava esse templo construído em mármore e que levou não apenas anos mas gerações de famílias em sua construção... porém, ele me encantava...  não sei se pela história que o envolvia ou pelas formas suntuosas... algo me dizia: “come and see”.

A primeira coisa que você deve saber sobre quando você escolhe fazer um trabalho voluntário na Índia e justifica como algo que vá fazer a diferença na vida de alguém é que quando disser isso na reunião de família, vai ouvir comentários tais como: “porquê não vai fazer trabalho no hospital da esquina?” Ou “mas porque ir tão longe?” ou pior ainda: “você quer farrear”. Perto desses comentários, a história do “brincar de comer, rezar, amar” parecia inofensiva.

Desde muito cedo fui altamente ativa em atividades extracurriculares em busca de um currículo exímio que pudesse me abrir portas, no entanto, enquanto alguns se aplicam a esportes ou outras coisas eu me encontrei nos trabalhos voluntários. Conseguir 20 mil tijolos para construir um centro comunitário? Check. Arrecadar alimentos para os necessitados sendo q eu precisei visitar 3 bairros batendo de porta em porta e carregando os alimentos no braço? Check! Qualquer-coisa-que-pudesse-ser-feita para ajuda alguém? Check. Eu amava saber que ajudava. Amava que eu pudesse ajudar alguém e dar sentindo a minha existência, porém, esqueci que em algum momento eu tb precisaria ser ajudada, e ali estava eu… estressada aos 13 anos? Check. Ansiosa aos 17? Check.

A gente esquece que antes de ajudar os outros é preciso nos ajudar. E aqui que entra a yoga... nunca vou esquecer de que quando cheguei no local, “milhas e milhas distante do meu amor” (próprio), eu só sabia pensar: “o que que eu estou fazendo? “ ou então: “deve ser parte da experiência, né? Vir a India e não fazer yoga, não tem sentindo” e então eu rememorei aquela cena maravilhosa na qual Elizabeth Gilbert tentava meditar e ao invés disso ela decorava sua sala de meditação e etc, e pouco mais de um minuto se passava. Essa é a mente de um ansioso... ele ja tenta imaginar todos os cenários possíveis antes do primeiro momento acontecer. Veja bem, eu não fazia ideia do que me esperava... eu não poderia imaginar que ali residia a solução que iria aquietar corpo, mente e alma e proporcionar uma permanência incrível.

Quando falam q vai “brincar” de comer rezar amar na Índia você, geralmente, tem duas opções: se apegar a isso ou ignorar. Óbvio que eu me apaguei tentando ignorar. Veja, eu só conhecia o filme... Eu ainda não conhecia a história ao pé da letra. Eu tentei ignorar mas bem no fundo, aquilo era o reflexo do que eu esperava da Índia.... crianças cercando o carro, meu encontro com um elefante e muita meditação (ou pelo menos uma tentativa, né?!) … pq quando se é ansioso você já imagina o quão difícil pode ser fechar os olhos e ficar quieto por 30 segundos.

Quando desci do tuk-tuk, eu me perguntei, ao menos umas 200x: “O que estou fazendo aqui?” Eu estava com medo, ainda desconhecia as leis indianas, não sabia que aquele seria o momento ideal para começar algo.. no entanto, entrei.. Rudra estava me esperando, e me ofereceu chá, logo quando entrei. Ele disse que pela minha inquietação sabia que seria uma aula difícil. “Mente ansiosa” comentou. Tomei o chá e começamos. Ele disse que faríamos uma aula longa na qual eu poderia conhecer um pouco de tudo (e de fato, conheci.. de saudações ao sol às posições animalescas) e depois disso meditamos. Por incrível que pareça, não fui Liz Gilbert, ao contrário, fui capaz de ceder ao momento e me permitir sentir, focar na respiração, permanecer naquele estado e deixar que aquele estado permanecesse em mim. Consegui meditar de forma plena. Atenção total ao momento presente.

No final da aula eu tomei mais chá. Não, não apenas uma xícara, foram baldes de chá. Eu me sentia diferente, me sentia calma, me sentia atenciosa, me sentia presente. A Helena que entrou naquela sala era o oposto da Helena que deixava aquela sala naquele momento. Alguns lances de escada abaixo e minha percepção mudou. Como isso tudo seria possível? Nem ele sabia me dizer. Que “resultado maravilhoso” disse, “acredite, eu duvidei de um cenário assim, você era muito ansiosa quando chegou aqui”. Após sair daquela aula fui procurar um tuk tuk que pudesse me levar para casa. Que dificuldade! Não me deixei abater, fui calma e tranquila. Esperei. Quando consegui não tive nem dificuldade em falar. Não deixei o medo me abater. Eu poderia estar sozinha mas estava calma e atenta ao momento. Não é fácil ser uma mulher na Índia em pleno século XXI, mas usar suas técnicas milenares para evoluir é.

Ao sair dali e ir para casa eu logo providenciei material para poder meditar em casa e, por muito tempo eu fiz os exercícios, no entanto a prática da meditação é diferente da prática dos exercícios, para retomá-los precisei encontrar uma pessoa para me ajudar. Fazer yoga é um aprendizado constante. Cada movimento, cada respiração é o seu corpo lhe ensinando sobre limites e o curso natural das coisas. A atenção ao momento também. São muitas constantes em exercícios variáveis, fundamentais para nos ensinar não apenas sobre a espiritualidade indiana, energia corporal ou outras coisas, mas sobre nós mesmos e nos impulsionar em direção ao que queremos.

Minha chegada naquele país foi o retrato oposto do que eu idealizava. E é, de fato, uma história engraçada... a caminho da Índia, ainda no avião na ponte aérea Delhi-Jaipur, um senhor indiano resolveu puxar papo… Acho que meu medo era visível a ponto de atrair o comentário certo da pessoa certa. E alí estava o que eu precisava ouvir, devo enfatizar isso: o que eu precisava ouvir… Naquele vôo a caminho do meu destino final eu recebi o seguinte conselho, e devo admitir que eu o carrego comigo até hoje:

“Se um copo está vazio, você pode preenchê-lo, se um copo está cheio, você não pode. Então, veja bem, você está a caminho da Índia, liberte seu coração. Vá com a cabeça aberta, esvazie-se de tudo que você já ouviu, viu ou sabe sobre o país… e permita que o seu coração seja preenchido com tudo que você encontrará lá, sem ideias pré concebidas.. apenas vá e permita que Jaipur preencha o seu coração, eu garanto que você não se arrependerá.”

Esse era o conselho de um senhor de meia idade a uma garota prestes a desembarcar na índia. Uma garota com blusa de lã, jaqueta de couro, botas e mochila… no melhor estilo “vim me aventurar” ou “pretendo de encontrar” … ou no bom português claro: “estou perdida e não faço ideia a que vim”…

E foi isso que eu me permiti… deixei o país o coração preenchido, cheio e repleto. Conheci pessoas e sentimentos que eu nunca antes esperei conhecer.. no que se qualificou como uma das maiores experiências da minha vida, de fato, um turning point. Dizem que a Índia não te transforma, ela te torna melhor e eu acredito muito nisso.. a partir daquele momento (e daqueles encontros) eu melhorei .. e fiz questão de trazer essas mudanças para a minha vida.

Atualmente pratico Yoga duas vezes na semana, me inspirei em algumas pessoas para retornar à prática, e toda vez quando a professora fala: “respire e livre-se do julgamentos“ eu me lembro dessa conversa no avião. Acontece que são conselhos assim que nos mudam para sempre, que nos fazem enxergar novos caminhos, que aliviam o peso da mochila. Muito tempo já se passou desde aquela primeira aula, desde aquela viagem, mas os ensinamentos? Estes permanecem. 

 

 

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