Como Não Sucumbir À (Falsa) Necessidade De Abraçar O Mundo De Uma Só Vez?
Quando adolescente, eu comentava que gostaria de viver várias vidas em uma só. Queria conseguir experimentar diversas realidades de forma simultânea, e mudar de uma pra outra conforme eu quisesse (com certeza inspirado no filme “Click”, do Adam Sandler, sabe?). Era mais ou menos assim: queria estudar em um high school nos Estados Unidos (com bailes de formatura e futebol americano), ao mesmo tempo que queria ser uma adolescente na Costa Rica que pegava ondas na praia em frente à escola depois das aulas.Apesar de hoje saber que isso não é possível, ainda sinto resquícios desse desejo. Sou uma pessoa muito curiosa e vivo pelo “tudo me interessa, nada me prende”. Assim, estou sempre matriculada em alguma aula diferente ou me aprofundando em um assunto aleatório. Basta alguma amiga comentar que um curso de História da Arte está pra começar ou que um novo studio de hot yoga abriu na região que eu já começo a procurar maneiras de encaixar na minha agenda.
Quando a lista dos To Do's acaba não sendo efetiva
Ainda não sei se este movimento é particular ou algo da minha geração, mas, com 24 anos, sinto uma enorme ansiedade para experimentar tudo que me é apresentado. Vejo até uma certa “urgência” para começar (ou retomar) hábitos, conhecer lugares, aprender mais um idioma, tocar um novo instrumento, ser promovida, começar uma família...O conceito funcionou bem até o momento em que eu não tinha espaço na semana para mais nada. Ao colocar todos meus to do’s na ponta do lápis, percebi que havia encaixado minha aula de espanhol na hora do almoço só para não deixar de fazer (o almoço eu intercalava com as reuniões do dia ou comia um lanche qualquer). Também deixei de considerar os intervalos de deslocamento para conseguir adicionar mais compromissos (em uma cidade como São Paulo isso é impensável).Obviamente (mas não pra mim), essa estrutura estava fadada ao fracasso. Além de um cansaço extremo, sentia que não estava evoluindo efetivamente em nada. Conversando com amigos (e com minha terapeuta, rs), percebi que precisava definir prioridades para cada momento de vida. Afinal, nosso tempo é finito e muito precioso.
Finalmente, decidi dividir o meu tempo...
No meu caso, tomei três principais decisões. Primeiro, “recortei” minha agenda entre atividades inegociáveis (ex: trabalho, atividade física e sono), atividades prioritárias (ex: aula de espanhol, aula de francês, terapia) e atividades secundárias (tudo aquilo que eu posso fazer conforme houver espaço, sem necessariamente um compromisso fixo).Também conversei com pessoas que já passaram por algo parecido. Nada melhor do que a experiência, não é mesmo? Sentar com uma amiga querida, acompanhada de um chá de maracujá delicioso e de muitas incertezas e escutar “calma, isso vai passar!” sempre funcionou para mim. No entanto, a parte mais difícil foi exercitar o que deve ser feito hoje e o que eu posso deixar pra Angélica do futuro. Exemplo: quero muito aprender italiano, mas não preciso começar essa aula semana que vem.Apesar de ser um exercício constante, já vejo os benefícios de ser uma pessoa mais criteriosa quando o assunto é meu tempo. Sinto que consigo me dedicar ativamente àquela atividade e, consequentemente, entrego resultados melhores e me sinto muito mais satisfeita.Vai ver não é necessário ter várias vidas simultâneas, mas sim aprender a fazer boas escolhas nessa que a gente tem... LEIA TAMBÉM: