Q&A Com Antonia Leite Barbosa
lNo lançamento da candidatura no Instagram da Agenda Carioca, Antonia Leite Barbosa, candidata a vereadora no Rio de Janeiro escreveu: “O desejo de concorrer ao cargo é muito motivado pelo trabalho que realizei e realizo com a Agenda Carioca. Acredito que posso levar essa experiência para o poder público, impactando ainda mais pessoas com essas iniciativas e tornando o Rio um lugar melhor para se viver, divertir, visitar, trabalhar e empreender.”Uma alegria imensa ver uma mulher quebrando paradigmas, se envolvendo em um quadro tão delicado quanto o atual cenário do Rio de Janeiro. Bati um papo com a Antonia sobre coragem e preconceito.LEIA A ENTREVISTAO que te motivou a entrar para a política? Sempre tive muito orgulho de ser carioca, já fui embaixadora da marca RJ, sou Embaixadora do Turismo, tenho um amor muito grande por essa cidade. Mas tá difícil viver, trabalhar, empreender e criar filhos aqui. Sou muito privilegiada e não dá mais pra ficar assistindo de braços cruzados tanta degradação e descaso do poder público. Você sente que já mudou como ser humano e cidadã quando expandiu seu olhar fora da zona de conforto?Minha mudança foi muito gradual começando há pelo menos duas décadas quando iniciei minha história de amor com o Rio. Um acidente trágico na esquina da minha casa acelerou esta mudança. Caiu a ficha do quanto o cidadão engajado pode contribuir para impactar positivamente a comunidade e fui buscar formas de atuação, inicialmente me filiando a associação de moradores do bairro onde moro. Quanto mais eu me informava sobre os dramas da nossa cidade, mais crescia um olhar para alem do meu próprio umbigo e a vontade de ser um agente mesmo em pequena escala de uma mudança. Como foi o dia que você decidiu entrar para a política? Como sua família recebeu a notícia?Sou casada há 13 anos e meu marido Joaquim foi meu grande incentivador. Sem o apoio dele não teria ido em frente. Nenhum sucesso profissional justifica um fracasso familiar. Minha mãe ficou muito reticente e se preocupa, até hoje, mas está cada dia mais orgulhosa e engajada, entendendo que a minha escolha pode trazer benefícios concretos para a cidade. Meu saudoso pai se estivesse vivo tenho certeza de que seria meu maior cabo eleitoral. Mas tenho fé de que ele está me protegendo e mandando as melhores energias. Vi em uma entrevista para o Brazil Journal onde você cita o historiador britânico Arnold Toynbee “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam.” Conheço muitas mulheres que falam que “odeiam política” então preferem não se envolver. Mas o que elas odeiam é a máquina brasileira, que é de fato odiável por carregar anos de corrupção. Como desmistificar isso?Temos que ser agentes das transformações que desejamos. A mudança começa em você mesmo. A eleição americana, com recorde de votantes, mostrou muito isso. Fiquei surpresa com alguns amigos “influencers”, que me apoiam pessoalmente, maspreferiram não compartilhar qualquer endosso público em suas redes. É de suma importância nos engajarmos no processo político ou continuaremos assinando um “cheque em branco”. Como são os bastidores de uma mulher na política? Você já enfrentou preconceito por ser mulher?O preconceito que mais me chocou nessa campanha veio de outra mulher, infelizmente. Uma prima distante que ao ser questionada nas redes por ter declarado voto a outro candidato e não a mim (em seu total direito de expressão de divulgar e apoiar seu candidato com orgulho), respondeu que “laços de sangue não são boas escolhas” e que “quando colocarem algo em votação, realmente importante, ela nem entenderá o que foi votado. Antonia é uma gracinha mas política é pra gente grande”. Publicamente desmerecer e desvalorizar outra mulher mais jovem no início de uma potencial carreira política onde pretende lutar pelo bem do Rio é o tipo de postura repressora que faz a gente ter baixa-estima quando cogita fazer algo fora do que é “esperado da gente” na sociedade.