Um papo no apartamento mais charmingly cool de São Paulo com Ana Strumpf
Acompanho o trabalho da Ana Strumpf desde a adolescência na época da Garimpo, a primeira loja de objetos de decoração descoladinha de São Paulo, que nasceu dentro da Formatex, antiga empresa de tecidos da família Strumpf, com as sobras de tecido que viravam caixas, almofadas, etc.
O Instagram aproximou a gente – adoro quando o algoritmo trabalha em meu favor. Quem acompanha a Ana por lá (@anastrumpf) já deve ter uma ideia de como é a casa dela, pois sempre aparece como cenário em seus posts. Um apartamento super charmoso em Higienópolis onde mora com o marido cineasta, Dennison Ramalho, e os gêmeos Max e Noah, parece um board do Pinterest! Todos os cantinhos contam uma história - eu adoro como a Ana de fato faz o que se propõe a fazer - por exemplo, a parede do corredor com fotos da família, isso está no meu to do list desde que comecei a construir uma família e ainda não fui capaz de emoldurar uma única foto se quer.
Eu definiria a decoração do apartamento como contemporary kitsch cool meets the classics. Tem referências clássicas, sofás de veludo, tapete xadrez e objetos de decor da ABC Carpet e da John Derian Company - as lojas mais cool de decoração de NY - que a Ana trouxe quando voltou para o Brasil depois de uma temporada na cidade com a família. "Eu sou meio colecionadora. Pratos, matrioskas, os globos... Eu tentei parar mas as pessoas me dão. Eu volto de viagem com pratos, com luminárias; esse sofá verde é Ikea, vitrine Ikea. Eu trouxe várias coisas na mudança antes mesmo de saber onde eu ia morar, mas eu tinha que ter essa mesa, esse sofá..."
A coleção de pratos na parede e a vitrine Ikea onde a Ana guarda as coleções de globos, matrioskas, etc.
ABOUT FAMILY
Ana cresceu em um ambiente criativo e empreendedor. Era uma casa dinâmica em que todo mundo se expressava visualmente e tinha isso como o maior trigger para o trabalho. E ainda teve o privilégio de trabalhar com sua avó.
"Sempre fui ansiosinha. O único lugar que eu me acalmava era desenhando, meus pais incentivaram isso. Meu pai desenhava, minha mãe é arquiteta. Sou de uma família artsy driven. Minha avó por parte de mãe é super manual. Fez o vestido de casamento da minha mãe, meu vestido de bat mitzvah, bordava almofadas e bolsas para a Garimpo. E até pouco tempo bordava as fronhas que fazia com as minhas ilustrações, sempre fomos muito parceiras de trabalho".
Ana começou no mercado com 13 anos fazendo expediente na Formatex e teve o dream job de toda garota adolescente dos anos 90, trabalhando na revista Capricho junto com sua tia Monica Figueiredo. "Eu me achava (risos). Minha autoestima (sobre ser bonita, estar bem com meu corpo) veio com o tempo, mas eu me achava cool".
Esse histórico deu uma dose extra de profissionalismo que a deixa em vantagem, sabe trabalhar com prazos e expectativas de grandes clientes com muito pé no chão e um certo perfeccionismo, que às vezes não joga a seu favor.
No lavabo os posters dos filmes do marido
Extremamente exigente e detalhista, ela pode ser um pouco controladora, apesar de todas nós mães sabermos que quando se trata de filhos, é uma tarefa impossível. Ana teve uma gravidez complicada, sofreu um aborto no início da gestação e os gêmeos nasceram com 30 semanas, foram meses de UTI em NY enfrentando uma maratona para aprenderem a mamar, ganhar peso e atingir as metas para irem para casa. Mães de UTI costumam sufocar os próprios sentimentos porque precisam estar inteiras para seus filhos que acabaram de nascer. Não a toa ela foi diagnosticada com fibromialgia recentemente, uma condição que causa desconforto e dores no corpo. Uma dieta mais restrita, a pratica da yoga e meditação ajudam - “mas a meditação ainda é um desafio pra mim.”
WORK TALK
Ana passou a entrevista trabalhando em uma estampa que está fazendo para um cliente, quero saber tudo sobre seu processo criativo: -"Parto de um princípio. A partir do tema que o cliente quer, neste caso ‘botânico romântico pop’ - que é o que eu sou (romântica pop) - e começo a montar um board. Eu amo fazer moodboard e pegar referências, 80% do meu tempo é dedicado ao processo pré. Quando é um trabalho menos comercial, não faço nem rascunho, é mais fluido. Eu olho pra coisa e vai indo. Meu processo criativo pode vir de olhar uma pessoa na rua, em uma exposição, em um livro - eu compro muito livro, de referência, de história. Para esse job to usando muito o livro do Joseph Frank, que fazia umas estampas botânicas".
A esquerda, a capa da revista AnOther com interferências da Ana no escritório e a direita um print do artista Donald Robertson por quem eu também sou apaixonada!
Você certamente já viu as capas de revistas com interferências que Ana assina. Enquanto morava em NY, ela começou a ilustrar capas o que chamou a atenção da Marina Larroudé (hoje diretora de moda da Barneys), que na época trabalhava no Style.com. Depois que um post mostrando o trabalho da Ana saiu no Honestly What The Fuck e praticamente viralizou, Marina a contratou para seu primeiro job como ilustradora. Foi uma campanha para o Style.com, na época da Copa do Mundo. Isso foi um jump na carreira da Ana e ela começou a formar sua base de seguidores e fãs das ilustrações - no último SXSW (festival de tecnologia e inovação nos Estados Unidos) a cidade de Austin foi invadida por posters com suas ilustrações. Quero saber como ela lida com isso, imagina chegar na cidade com a maior concentração de gente interessante do mundo e ver o seu trabalho em painéis do aeroporto aos postes nas ruas? "A vida é muito de ups and downs, eu acho muito legal ser reconhecida. Será que vou me sustentar mais um ano com as minhas ilustrações? Eu tenho muita humildade. Trabalho é normal, faz parte do dia a dia, não dá pra ficar deslumbrada com o trabalho. Eu lembro da Garimpo com saudades, como uma coisa que deu certo, já tive meus próprios ups and downs de business, com a empresa da família que quebrou, sei como funciona. Acho que acreditar é quase metade do caminho. Eu tenho uma coisa meio crítica que me estraga um pouco. São poucos os trabalhos que eu olho e falo: - ‘nossa, arrasei’! Hoje só aceito críticas de quem está na arena, de quem está fazendo, aprendi com a Brene Brown, que conheci no SXSW. Fico muito estressada quando eu tenho job fora, uma puta responsabilidade, empresa americana, outra entrega. Eu trato meus trabalhos sempre iguais, mas aqui eu tenho o meu lugar, aqui eu estou conquistando meus contatos desde que nasci. Lá é mais claro, as entregas, as datas, as refações. Eu gosto muito de trabalhar lá, fico mais estressada, mas o trabalho é mais preto no branco"
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SOBRE ROTINA
Eu adoro saber mais sobre a rotina de outras pessoas, principalmente das mães, a gente sempre acaba pegando alguma ideia para inserir na nossa rotina e tentar equilibrar melhor o tempo com as crianças e com o trabalho. O escritório da Ana é a poucas quadras da casa dela, mobilidade faz toda a diferença para quem tem a cabeça a mil. Por um lado a cabeça não para e a pessoa está trabalhando 24h, mas é na parte da tarde, no estúdio, que ela é obrigada a se concentrar e a cumprir prazos e lidar com burocracia.
"Eu faço minhas manhãs mais pessoais. Ginástica, entrevistas, almoço com os meninos e a tarde vou para o estúdio. Eu volto no fim do dia, depois eu não consigo mais fluir.
Geralmente a gente coloca os dois pra dormir, e fazemos o minutinho, deitar na cama com cada um, que na verdade dura mais de 30 minutos. Invento massagens, é uma delícia. Eu evito ficar o dia inteiro no estúdio. Minha assistente fica, a grande Laiza. Eu odeio o último dia do mês, odeio burocracia, contratos, etc. Pago feliz meus agentes por fazerem isso por mim. Eu fico ansiosa quando participo de uma negociação, tirar isso de mim foi muito bom."
FASHION TALK
Eu adoro o estilo da Ana e suas joinhas do dia a dia. Durante a entrevista ela recebeu uma encomenda, um pingente que tinha acabado de comprar com a inicial do marido, da designer de joias Priscila Wolff Feres, amiga nossa em comum que foi a responsável por esse encontro. O pingente foi o presente de 10 anos de casado dela para o marido, mas para ela usar, achei um moove genial. Tudo começou porque Ana carrega no pescoço um colar da Foundrae, marca de joias de NY que é absurdamente cool, com as iniciais dos filhos e o marido vivia com ciúmes. Fashionably smart.
O colar da Foundrae veio depois de um job para a marca: "Ela (Beth Bugdaycay) pediu para eu desenhar os símbolos da marca nesse dicionário de 1830, ela é toda mística, tudo tem um meaning. Ela me mandou o dicionário e eu desenhei as medalhinhas que são os símbolos da Foundrae: karma, dream forward, passion. O dicionário tá na loja em NY. Eu levei comigo no colo, no avião, grudado em mim".
NOTE TO SELF
Um amigo do meu pai me ensinou que sempre que você faz um trabalho, você pega 10% e compra alguma coisa pra você. Então eu sempre compro alguma coisinha quando eu faço um job.
SOBRE VIAGENS E MATERNIDADE
"Eu curto me informar em guias de viagem como o do Goop. Eu faço 40 anos esse ano, e vou pro Marrocos que eu sempre quis ir. Gosto dos achadinhos. Me sinto culpada em ir viajar, morro de culpa, acho que como toda mãe. Mas me faz muito bem, eu volto renovada, me sinto uma mãe melhor. Meu marido se culpa muito menos do que eu. Eu sinto que eu to sempre a frente, e isso é pro bem e pro mal. Acho que é do feminino, da maternidade. A maioria das minhas questões tem a ver com maternidade. Eu não troco por nada a minha maternidade, minha vida com os meninos, mas eu não tinha ideia de onde eu tava colocando minha barriguinha.
Em viagens eu gosto de alguns rituais. Em NY eu quero ir no Café Gitane, gosto de ir nos mesmos. Nós mães modernas, acumulamos muita coisa. Aqui em casa a gente divide tudo, contas e tarefas. Mas eu sei que eu tenho um olhar above, em cima de tudo. Coisas do dia a dia, tipo precisa pintar a parede. Meu marido cuida da parte burocrática, contratos de babás, etc. Ano passado eu tirei um sabático, fui viajar, porque precisava me reequilibrar. Depois que eu virei mãe, minha carreira fez um boom. Sempre tive uma coisa de controle, e de micromanaging” - tipo quando ela mandou eu tomar logo meu chá para não esfriar, mas eu queria mais frio – “Hoje eu to em um ritmo que considero bom, mas meu ritmo de vida e com as crianças, me exige bastante. Eu sinto mais o que acontece com eles, coisas do dia a dia mesmo, como uma dor de garganta. O conjunto de coordenar a casa e o trabalho, é punk. Na casa da minha mãe era um esquema old school, ela sempre trabalhou, mas na época dos nossos pais o ritmo e esquema era diferente Eu pretendo morar nos USA de novo, então eu tendo a querer uma vida mais simples".
Já conheciam o trabalho e a casa incrível da Ana Strumpf? Tem sugestões de mais pessoas inspiradoras que gostariam de ver aqui no Lolla? Deixe nos comentário.
Follow: @anastumpf - ela tbm stickers no stories do Instagram. Só escrever “anastrumpf” na busca para usar.