A liberdade de (quase) sair de casa sem maquiagem
Sempre fui extremamente vaidosa. Lembro de uma vez em que fui ao Hopi Hari com a minha turma da escola, devia ter em torno de uns 6, 7 anos. Na noite anterior, enquanto minha mãe arrumava minha mochila com o básico e necessário, como: protetor solar, boné́, água e uma troca de roupa, vim do meu quarto segurando um batom (aqueles de moranguinho, lembram?) e uma sombra rosa para acrescentar no kit. Minha mãe olhou, deu risada e me perguntou para que raios eu ia levar um batom e uma sombra ao Hopi Hari. Olhei para ela e respondi como se fosse óbvio: - Mãe, uma mulher tem que estar bonita todas as horas!
Cresci. E hoje, quando lembro dessa história, fico me questionando: Uma mulher tem mesmo que estar bonita todas as horas? E mais, o que é ser bonita de verdade? Sempre fui daquelas que, mesmo saindo de casa só́ para ir na padaria comprar 200g de mortadela, precisava, necessitava, agoniava por pelo menos um corretivo que cobrisse as espinhas ou qualquer outra “imperfeição”. É algo meu, gosto de todo esse preparo. Já́ até me disseram que parece que eu gosto mais de me arrumar para a festa do que da festa em si. Talvez seja verdade...
No entanto, o cenário mudou um pouco. Hoje trabalho em tempo integral, tento acordar mais cedo para malhar, tento me alimentar melhor... Toda aquela ladainha que estamos cansadas de ouvir, mas que é quase impossível de atingir. O combo da vida adulta perfeita. Porém, a realidade é ligeiramente diferente. A indagação diária do: lavar o cabelo à noite ou pela manhã? Perdi as contas de quantas vezes deixei para lavar quando acordasse e levantei atrasada ou simplesmente fiquei com preguiça. Resultado? O bom e velho amigo talco no cabelo sujo. A questão da maquiagem, no entanto, para mim sempre foi diferente. Se o cabelo não está dos melhores, a maquiagem sempre foi minha salvação. Ela nunca me decepciona, exceto em alguns momentos...
Sabem aqueles dias em que alguém te tira do sério logo de manhã e você esfrega o rosto com as duas mãos para se segurar e não avançar na pessoa? Já́ tentaram fazer isso maquiadas? Eu já. Depois ainda fui cumprimentar o meu chefe e deixei um rastro de base na camisa dele – help!
O que estou querendo dizer é que sempre gostei de todo esse ritual, é prazeroso para mim, mas, com toda essa correria que virou a minha vida, minhas prioridades mudaram. Esses dias tive um evento depois do trabalho e esqueci toda a minha parafernália de beleza no escritório. Logo, acabei indo sem maquiagem alguma. Quando cheguei (quase meia hora mais cedo, uma vez que, sem base, corretivo, blush e rímel, poupei muito do meu tempo normal de atraso), me olhei no espelho e algo estava diferente... me senti tão bonita, tão leve e tão eu! Ok que minha pele estava em uma fase boa, talvez por ter conseguido dormir um pouco mais, ou até mesmo a época favorável em que estava do meu ciclo (quando estou na TPM parece piada, sempre nasce alguma espinha destramente bem no meio do meu rosto), mas de qualquer forma, não é algo com que estou acostumada. Dificilmente saio sem nada.
Não sei de quem puxei, minha mãe quase nunca usa maquiagem (e a acho linda exatamente assim), então provavelmente essa veia tenha vindo da minha tia. Nunca a vi fora de casa sem um lápis de olho que fosse. Mas, depois desse lero-lero todo e algumas mudanças na minha rotina, estou aos poucos tentando me libertar dessa necessidade de me pintar tanto todos os dias.
Hoje, com 22 anos e sem um batom de moranguinho e uma sombra rosa na bolsa, entendi que o importante é nos sentirmos bem com nós mesmas, do jeito que somos ou do jeito que quisermos ser. Há dias em que tudo o que eu quero é sentir o vento no rosto, sem me preocupar em deixar marcas cor de pele por aí, assim como também há dias em que anseio por um batom vermelho e delineador gatinho antes das 9 da manhã. Seja como for, sejamos felizes, sejamos livres e sejamos quem bem entendermos.